Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

Sejam bem-vindos !

terça-feira, 8 de setembro de 2009

POSSÍVEIS CONTEÚDOS DOS ENCONTROS DE FORMAÇÃO

08/09 – JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA – BENJAMIM
Aprofundar na temática a partir dos textos de W. Benjamim; Discutir a relação da literatura com as práticas corporais cotidianas; Sanar possíveis dúvidas sobre o tema;

22/09 – O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA ED. FÍSICA NA ED. INFANTIL
Tema oriundo do penúltimo encontro de formação; Discutir, refletir e socializar as diferentes maneiras de avaliação da Ed. Física na Ed. Infantil; Contribuir para a formação de professoras menos experientes na Ed. Infantil, esclarecendo dúvidas e apresentando possibilidades; Debater sobre o contato com a família das crianças, prós e contras, e maneiras de aproximação com diferentes contextos familiares;

06/10 – RELATO DE EXPERIÊNCIA: AVALIAÇÃO NA ED. INFANTIL(Sugestão prof. Inelve) Ferramentas utilizadas durante o semestre que compõe a avaliação; o registro das atividades, passeios e práticas vivenciadas pelas crianças; o contato com os pais; os resultados deste modelo de avaliação;

20/10 – O PROCESSO CIVILIZADOR NO 0 A 5 ANOS
Questionamento que surgiu em um dos encontros neste ano, como proporcionar uma educação civilizadora que não seja marcada pela repressão?; Como humanizar as crianças de uma forma mais suave, que não seja tão marcada pelas relações de poder?; Desnaturalizar práticas rotineiras e refletir sobre as atitudes dos professores, de que forma isto influencia na educação das crianças;

03/11 – O PROCESSO CIVILIZADOR NO 0 A 5 ANOS E INTRODUÇÃO À OFICINA DE DANÇA
Fechamento da discussão a respeito do processo civilizador na Ed. Infantil; Introdução do tema da oficina a ser realizada no encontro seguinte;

17/11 – OFICINA DE DANÇA – PROFESSORA CAREN
Oficina de dança; Possibilidades da dança na Ed. Infantil; Apresentar o conteúdo trabalhado e as respectivas faixas etárias; Relacionar a oficina com a literatura estudada; dança e mímesis; dança e técnica; O corpo como instrumento da brincadeira;

01/12 – FECHAMENTO E ENCAMINHAMENTO PARA O PRÓXIMO ANO
Avaliação do processo desenvolvido este ano, metodologia, literatura, dificuldades e avanços, etc; Encaminhamento para o ano seguinte, parcerias, objetivos, conteúdos e metodologia; Discutir sobre as diretrizes curriculares e o processo de formação continuada, documento do grupo apresentado à SME/DEI;

OUTROS POSSÍVEIS CONTEÚDOS
• Violência nos momentos da Educação Física
• Questões de gênero
• Inclusão
• Educação Física de 0 a 2 anos, o que fazer?

Aguardo a contribuição de vocês para fecharmos os temas para o final deste ano.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

RELATÓRIO 04/08

Para este encontro estava programado o fechamento dos textos e o encaminhamento para as atividades do segundo semestre. Devido ao baixo número de professores que compareceram, adiamos o fechamento dos textos para a primeira parte do encontro seguinte, que estava previsto a realização da oficina de dança, que será possivelmente realizada em outra data e substituímos por um relato de experiência na segunda parte.
Sem uma temática específica devido às circunstâncias, surge o desejo das professoras mais novas do grupo, com pouco tempo de experiência na Educação Infantil, de saber como é realizada a avaliação, e então, as professoras socializaram como elas estão encaminhando esta questão em suas instituições.
Conta-nos uma das educadoras que a avaliação em sua creche, que possui 6 salas, é feita de forma descritiva e individual, porém cada professor fica responsável por um determinado número de crianças, e depois essa avaliação é socializada, ou seja, todos os educadores têm acesso às avaliações dos demais e podem também contribuir, agregando alguns pontos que a professora possivelmente não percebeu.
Outra educadora relatou que em sua instituição a avaliação é feita por turma, em que a professora de sala faz o relatório de cada criança de sua turma, mas a Educação Física, por ser uma prática realizada com todas as turmas da instituição, assume outro modelo de avaliação. No dia de avaliação, a creche continua funcionando normalmente e apenas uma sala não tem aula, que é exatamente a sala que está tendo avaliação, e somente os pais das crianças desta turma comparecem. Neste dia, a professora de Educação Física fica em uma sala e atende um pai por vez. Ela procura mostrar o que a Educação Física tem feito, através de fotos, falando das atividades propostas, enfim, mostrando o caminho trilhado pela Educação Física, então, a avaliação da Educação Física acontece de forma coletiva, em que a professora avalia a turma de um modo geral, pois como ela relata “ é complicado fazer uma avaliação individual, não tenho condições de fazer uma avaliação fidedigna de 100 crianças “. Nesta fala, percebemos a preocupação em não fazer uma avaliação deficitária, que não retrate o que a criança é todos os dias na instituição.
Este modelo de avaliação adotado pela Educação Física, conta-nos a educadora, tem dado um resultado positivo, “os pais se envolvem mais”. O contato direto com os pais estreita as relações entre as famílias e a instituição, “os pais vêem as fotos e falam: Ah, meu filho tem feito isso em casa, quando a gente foi pra praia ele fez, por isso que ele tem perguntado”.
Outra professora presente no encontro conta-nos que devido a alguns empecilhos ocorridos ao longo do semestre, como greve dos professores no município e greve de ônibus, não foi possível viabilizar o contato com os pais, como normalmente ocorre. Porém, ela ressalta que “os filhos adoram que os pais vão à instituição, e os pais conseguem perceber que isto é importante, e este contato é garantido através de eventos e da avaliação”.
Um tema presente nos debates empreendidos pelo grupo já algum tempo, a organização do tempo pedagógico voltou a tona neste encontro, isto porque, novas professoras estão conseguindo organizar a carga horária semanal de outra forma, diferente do modelo tradicional baseado no modelo escolar. Este dado, de que novas professoras colocam em prática propostas de superação da atual organização prevista pela Secretaria Municipal de Educação, de três encontros semanais com quarenta e cinco minutos, está fortemente vinculado ao histórico do grupo, que tem acumulado ao longo de sua trajetória, valiosos debates e propostas inovadoras.
Uma proposta apresentada neste encontro foi a de organização por período, em que a Educação Física se insere na rotina da turma, acompanhando e participando das atividades da professora de sala e também propondo outras atividades que contam com a participação da professora de sala. Este momento privilegiado de troca de informações sobre as crianças é também um espaço para observar as crianças em outras situações. É preciso destacar que propostas inovadoras não são efetivadas de maneira individual, é necessário contar com a colaboração dos demais profissionais da instituição, ou seja, ser um desejo da unidade, e que é construído com o tempo.
Iniciativas de superação do modelo tradicional caminham na direção de um maior entendimento dos profissionais sobre o tempo das crianças, onde a organização pautada pelo tempo cronológico do mundo adulto não faz tanto sentido, sendo assim, os momentos de quarenta e cinco minutos da Educação Física podem durar um turno inteiro. Porém, é necessário frisar que isto não impede, de maneira alguma, que boas práticas sejam desenvolvidas em quarenta e cinco minutos.
O que colocamos em questão é esta estrutura sólida das três sessões semanais de quarenta e cinco minutos, enraizada no modelo escolar e que perdura na Educação Infantil há muitos anos. A organização do tempo pode variar de acordo com o interesse das crianças ou com os objetivos do professor, e como conta-nos uma educadora, percebe-se diferença de tempo entre as turmas, ou seja, uma atividade que foi realizada em 30 minutos com o grupo de 3 anos, pode durar 2 horas com o grupo de 5 anos.
Finalizando o encontro, os novos integrantes do grupo, que começaram a freqüentar este ano, falaram um pouco sobre a impressão estão tendo e de que forma o grupo tem contribuído.
Professora 1 “ O grupo de estudos está sendo essencial. Nuca tinha trabalhado com Educação Infantil, estou levando muito coisa boa para o meu dia-a-dia, tá me ajudando a refletir, os textos ajudaram a esclarecer o que é a Educação Física na Educação Infantil. Aos poucos vou conseguindo meu espaço na instituição. Não venho procurando uma coisa pronta, venho buscar ferramentas, ver se isso acontece só comigo, se as angústias são também as de outras, as inquietações, as inseguranças”.
Professora 2 ” Onde eu trabalhava tinha grupo de estudos, mas nada era da Educação Física, ficava só para o tema mais geral. O grupo de estudos foi bom porque reuniu um monte de professores de Educação Física que discutem. É um espaço muito legal, que querem construir um bom trabalho. É bem dosado a questão do teórico e prático”.
Professora 3 “ Vejo o espaço do grupo como fonte de alimento. Você nem sempre leva soluções, mas você compartilha. Nas instituições, você se sente meio sozinha, não tem com quem compartilhar, dividir isso. O grupo de estudos é essencial enquanto profissional. O coordenador pedagógico nem sempre é um aliado seu, tem uma visão cristalizada dos professores de Educação Física, visto como malandro”.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

RELATÓRIO 23/06

Para este encontro estava previsto a leitura do texto “A doutrina das semelhanças” de Walter Benjamin, dando continuidade ao aprofundamento teórico almejado pelo grupo na questão da mímesis.
Uma experiência mimética acontece quando a criança se aproxima do que não conhece para produzir e reconhecer semelhanças, é a forma com que interpreta e se comunica com o mundo, ou seja, de se relacionar com ele, como uma dimensão mais ampla da própria linguagem.
Nas brincadeiras infantis, a mímesis tem uma ligação muito íntima com o aprendizado das mesmas, visto que, as crianças não nascem sabendo brincar, mesmo sendo uma manifestação espontânea e natural desta fase, é através da mímesis que as crianças vão se familiarizando com as brincadeiras.
Quanto mais possibilidades de movimentos as crianças tiverem contato, seja através da mímesis ou da proposição dos educadores, mais confiantes elas vão ficando para realizar estes movimentos e também se desafiarem. Dentro das brincadeiras infantis, os participantes do grupo destacaram duas formas de prazer, a primeira é o prazer do movimento, a sensação, e a outra é exatamente o prazer em realizar o movimento. Uma professora do grupo nos retratou como a mímesis desempenha destacado papel na aprendizagem de brincadeiras e movimentos, “uma criança só percebeu que não conseguia saltar quando viu o colega saltando”.
Através da mímesis, as crianças não representam apenas outros seres humanos, mas também outras coisas, como um helicóptero, o vento, o sol, um carro, etc. Uma representação muito comum é a criança reproduzir a professora, uma figura identitária muito importante, porém, como relatado pelo grupo, isto não é uma regra, visto que há professoras muito agitadas com turmas calmas.
Em outras situações, o professor é quem mimetiza as crianças, quando não faz o distanciamento e se mistura com que está acontecendo. Um exemplo utilizado no encontro foi os momentos de confusão, transtorno, que ao invés de dar uma bronca, traz uma solução no nível das crianças, ou seja, mimetiza a situação.
Uma professora do grupo citou outro exemplo em relação ao professor mimetizar as crianças, quando ela presenciou uma educadora falar bem-feito para uma criança, atitude muito comum entre as crianças daquela instituição. Há realmente momentos em que o professor perde a razão e toma atitudes que não seriam as mais adequadas para a situação, porém, o que discutimos e julgamos problemático é a naturalização destas atitudes. É necessário que o educador faça a separação entre o que sente, o que fala e as suas ações.
O educador não deve considerar a criança como um adulto infantilizado, é preciso reconhecer que em algumas situações as crianças são chatas e atormentam. O problema é conceber isto como o lugar comum, ou seja, considerar a criança como chata em todas as suas atitudes, é preciso ficar atento para que estas práticas não se naturalizem e o professor consiga fazer o distanciamento necessário.
A partir desta questão, surge a discussão sobre a diferença entre a professora de sala e o professor de Educação Física, que são considerados como permissivos perante os olhos das educadoras de sala. É claro que as professoras de sala, por passarem maior tempo com as crianças é a principal referência de disciplina e tem um olhar muito voltado para o cuidado. Já os professores de Educação Física, que trabalham com o corpo, movimentos, enxergam este cuidado de outra maneira, um exemplo citado no encontro reflete exatamente isto, quando uma criança vai cair, o professor de Educação Física deixa, pois acredita que isto faz parte do processo de aprendizagem do que está sendo proposto. Neste exemplo, é necessário frisar que o espaço e os materiais foram pensados previamente, evitando qualquer lesão mais séria.
Concordamos que as crianças precisam de organização em vários momentos, mas isto não pode significar o mesmo que privar as crianças de algumas situações que podem ser interessantes de serem vivenciadas.
Casos de como a mímesis está presente nos momentos da Educação Física foram relatados neste encontro, como na brincadeira do boi-de-mamão, em que as crianças querem sempre ser o boi, de como as crianças tem medo da bernuza, mas não tem medo de ser a bernuza. Outro relato foi em relação ao ensino da dança através da mimetização de algumas situações como derreter igual sorvete, de mexer como uma gelatina, de lavar as mãos, encher e murchar como um balão. Nestas experiências miméticas, as crianças representam corporalmente como elas percebem estas situações, sendo assim, tem uma ligação muito íntima com o imaginário.
Finalizando o encontro, levantamos um questionamento muito válido em relação ao processo educacional, como educar/humanizar sem a opressão, como fazer isto através de um disciplinamento não tão marcado pelas relações de poder? Como proporcionar uma educação que não oprima a espontaneidade, mas que também não deixe livre? Nos questionamos em relação a isto porque consideramos que o processo educacional é também um processo civilizatório, onde as crianças tem contato com o conhecimento, a cultura e a sociedade, com todas as suas regras, padrões e condutas sociais.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

RELATÓRIO 16/06

Para este encontro estava previsto a leitura do texto “Notas Conceituais Sobre Mímesis e Educação do Corpo em Max Horkheimer e Theodor W. Adorno” dando continuidade e aprofundando a reflexão sobre um tema que o grupo considera ter destacado papel nas aulas de Educação Física, a relação da técnica com a mímesis.
No encontro anterior, onde foi realizada uma oficina, ministrada pela professora Michele e que contou com participação expressiva dos professores que compõem o grupo, o conteúdo Ginástica foi a pauta. A aprendizagem técnica de alguns movimentos e a sua ligação com a ludicidade marcaram a oficina.
A Ginástica, um conteúdo clássico da Educação Física, é também um elemento da cultura universal, ou seja, é parte constituinte do processo de humanização, e que se expressa exatamente pelo aprendizado de algumas técnicas corporais que nos proporcionam realizar os movimentos desejados.
Este domínio técnico é de certa forma uma instrumentalização do corpo, ou seja, o corpo se torna instrumento para a realização de algo. Pensando sobre este questão na infância, o corpo é o primeiro brinquedo, o primeiro objeto lúdico da criança, então, a criança o utiliza, o torna um objeto para brincar, mesmo que caracterizado neste momento pela espontaneidade.
Concebendo a técnica por este viéis, acreditamos que o conhecimento também passa pelo corpo, como outra dimensão do conhecimento, porém não menos valiosa. Praticamos e pensamos que através da vivência de alguns movimentos técnicos, as crianças experimentem sensações interessantes e a partir deste aparato técnico, recriem e ressignifiquem os mesmos. Não acreditamos que este aprendizado deve ser pautado pela repetição demasiada, desvinculada do contexto, onde a execução biomecanicamente perfeita do movimento é o objetivo final.
A partir da oficina, surge uma questão interessante e que mereceu nossa atenção durante este encontro, que seria identificar se os movimentos presentes na Ginástica são próprios das crianças ou foram produzidos e sistematizados pela cultura. Como todos nós nascemos dentro de um contexto cultural, com linguagem e conjunto simbólico específicos, seria difícil pensar em movimentos das crianças, já que sua comunicação e inserção no mundo são mediadas pela cultura.
Como a forma com que as crianças se relacionam com o mundo é mimética, sendo a mímesis a capacidade de reconhecer e produzir semelhanças, elas fazem uma representação deste contato com a cultura, por isso as brincadeiras infantis são importantes, elas vivenciam a representação de diferentes papéis através da mímesis.
Característica marcante da mímesis é a espontaneidade, algo que não foi pensado, não tem uma relação estreita com a cognição. O exemplo citado no encontro para retratar esta situação é quando crianças adotadas se parecem com os pais adotivos. Essas crianças se apropriam dos movimentos, gestos, fala, através do contato afetivo. Essa relação afetiva com o objeto expressada pela mímesis faz parte de uma dimensão não-conceitual do conhecimento.
Por outro lado, as práticas miméticas também estão relacionadas com a elaboração conceitual, na infância podemos perceber quando uma criança utiliza uma palavra que ainda não conhece o significado, mas de tanto ver sua mãe falando, a criança percebe a situação em que foi usada e utiliza da mesma maneira, de certa forma isto é produzir um conceito para algo.
Finalizando o encontro, debatemos rapidamente sobre a face sinistra da mímesis, expressada não mais pela identificação e sim pelo medo. Na aproximação por este lado, o indivíduo deixa de ser sujeito para aderir imediatamente. Nesta relação, a adesão mimética é ausência de desejo, que foi massacrado pela relação de força e poder estabelecida.
Fizemos um diálogo da questão do medo, presente na literatura, com a realidade concreta nas instituições. As crianças quando são alvos de relações de poder (muitas vezes necessárias), já que os adultos são figuras identitárias importantes, tendem a se diluir no ambiente, ou seja, a reação é tentar se esconder, se camuflar, sumir, o que não raro também acontece com nós adultos.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

RELATÓRIO 05/05/09

Uma das questões debatidas pelo grupo freqüentemente e que julgamos ser um elemento de grande relevância para o enfrentamento de problemáticas, bem como contribuir com futuros educadores, a documentação das práticas pedagógicas ou de processos pedagógicos desenvolvidos no cotidiano das instituições, demonstram ser uma excelente ferramenta para fomentar debates.
Seguindo a proposta do grupo, de intercalar aprofundamentos teóricos e questões vinculadas às práticas, como ponto de partida das discussões, já que estes estão em constante diálogo em nossos encontros, tivemos a apresentação do relato de experiência da professora Michelle Goulart, que documentou uma proposta dela de trabalhar alguns elementos da Ginástica nos momentos da Educação Física.
Primeiramente, relatou seu contato com os esportes e brincadeiras, afirmando que desde pequena era uma criança muita ativa, que adorava esportes e atividades físicas. Quando adolescente jogava vôlei, e então sofreu uma lesão e o médico recomendou que ela fizesse outra atividade, foi quando a ginástica entrou em sua vida.
Ainda cursando a graduação em Educação Física, foi contratada para trabalhar com a formação de atletas de Ginástica, inclusive algumas chegando a seleção brasileira, com carga horária de trinta horas semanais.
Depois de formada, fez o concurso da prefeitura e foi trabalhar com Educação Física na Educação Infantil. Com a memória de uma infância muito alegre e ativa, queria proporcionar o mesmo para as crianças de sua instituição. Como tinha grande domínio da Ginástica, trouxe seus movimentos para a Educação Infantil, mas agora não com o objetivo de formação de atletas, assumindo uma perspectiva mais lúdica e pedagógica. Dentro desta perspectiva, estimulava as crianças a jogarem/brincarem com o próprio corpo, a buscar novos desafios, conhecendo seus limites e possibilidades.
Para maior sustentação teórica ao processo desenvolvido, ela fez uma aproximação de sua prática com o texto “Técnica, Esporte e Rendimento”(VAZ, 2001), principalmente no que se refere a questão da técnica, sendo ela a mediação entre o ser humano e seu próprio corpo, desempenhando destacada função na organização da corporeidade. Ainda sobre a técnica, buscou no texto "Esporte na Escola e Esporte de Rendimento" (BRACHT, 2000),ampliando a compreensão de alguns mal-entendidos cristalizados ao longo dos anos a respeito da técnica e do esporte, tais como: 1) quem critica o esporte é contra o esporte; 2) tratar o esporte criticamente é ser contra a técnica; 3) quem não é crítico é tecnicista; 4) a técnica coíbe a criatividade e espontaneidade;
Os outros educadores integrantes do grupo também relataram como a técnica é interpretada equivocadamente, sempre a associando ao fim desejado, enquanto propomos que a técnica é um mecanismo para contribuir com uma vida melhor, e que deve assumir uma dimensão lúdica quando na Educação Infantil. Através do aparato técnico, a criança ressignifica e cria outras formas de brincar, tendo como base a aprendizagem técnica de um determinado movimento.
A professora que apresentou o relato acredita que os conteúdos da ginástica são movimentos próprios das crianças, como os saltos, o equilíbrio, rolamentos, acrobacias, posições invertidas, dentre outros. Ela desenvolve atividades de acrobacias e posições invertidas apenas com as crianças maiores da creche, usualmente as de cinco anos, devido à maturação física das mesmas.
Segundo ela, as crianças experimentam os movimentos técnicos totalmente fora dos padrões biomecânicos, por isso a técnica serve como orientação, onde a vivência assume o eixo principal da proposta e não a perfeição do gesto técnico, me valendo da expressão cunhada pelos educadores, “elas fazem do jeito delas”.
No processo desenvolvido pela professora, é interessante notar a utilização de espaços e materiais alternativos, como o refeitório e as mesas e cadeiras que lá estão, cabideiros, elásticos, pneus para maior fixação das mesas, observados através das fotos e vídeos utilizados. Uma questão fundamental que dialoga com a preparação do espaço e materiais, é a segurança. Os materiais devem estar dispostos de uma maneira que ofereça total segurança para as crianças, bem como o espaço deve ser pensado previamente, evitando possíveis acidentes. Ainda em relação à segurança, o professor deve ter enorme cuidado no ensino dos movimentos técnicos, pois se executados erroneamente, pode provocar lesões. Quando nos referimos a esta questão durante o encontro, o movimento observado foi o rolamento pra frente, e a educadora ressaltou que a criança tem que estar com o queixo bem colado ao peito, evitando lesões no pescoço. Vimos através das imagens que a professora atendia cada criança individualmente, intervindo quando necessário.
Finalizando o encontro, discutimos brevemente sobre a preparação dos materiais e espaços para os momentos da Educação Física. Como relatado pelos integrantes do grupo, a organização destes materiais e espaços não é tão simples e rápida, então, eles consideram que o tempo gasto deveria ser incluso no tempo da aula, ou seja, a preparação faz parte da carga horária que o professor tem que cumprir. Uma possibilidade comentada no encontro é incluir as crianças neste processo.

RELATÓRIO 28/04/09

Após o convite da SME/DEI para o grupo contribuir na construção das diretrizes curriculares da Educação Infantil, bem como na formação continuada dos professores da rede, pautamos a formulação de um documento, na forma de documento - manifesto, onde procuramos expor os debates e as produções do grupo desde sua criação e ressaltando a necessidade de uma formação continuada que seja específica para professores de Educação Física que atuam na Educação Infantil e que esta formação tenha um alcance mais massivo.
O processo de construção deste documento – manifesto se deu coletivamente, utilizando os materiais produzidos pelo grupo (relatos, relatórios e fichamentos) para a formulação do mesmo. Durante dois encontros discutimos e reavaliamos o conteúdo, visto a importância que este possui e chegamos a uma versão que ficou dividida em: 1) Apresentação, esclarecendo os objetivos do grupo com este documento e, como e porque surgiu o grupo de estudos independente; 2) Os caminhos trilhados, relatando historicamente as discussões, os anseios, as produções e parcerias efetivadas pelo grupo desde seu surgimento; 3) A proposta do grupo para a formação continuada.
O momento que sucedeu a formulação do documento foi a socialização do mesmo com os demais integrantes do grupo, a fim de discutir e avaliar o documento, verificando se este contemplava o que o grupo almeja para a formação e para as diretrizes.
Neste momento de socialização e discussão, foi levantada uma preocupação com a responsabilidade que pode ser atribuída ao grupo, ou seja, se algo der errado ou não for satisfatório, essa responsabilidade cairá sobre o grupo. Temos também como hipótese que a SME/DEI está dialogando com o grupo com a intenção de afirmar que a formulação das diretrizes e a formação continuada foi democrática e depois não ser condizente com as propostas do grupo. Estando alertados para isto, cremos que temos que nos posicionar com autoridade, evitando possíveis “golpes” por parte da SME/DEI.
Para melhor compreendermos o funcionamento da SME/DEI, convidamos um representante do sindicato dos professores, o Alex, que já fez parte do grupo e é formado em Educação Física. Para ele, o grupo tem que ter claro sua denominação, independente, tanto financeiramente, quanto politicamente, ou seja, o grupo se desvincula do poder em exercício, trilhando os próprios caminhos. Da mesma forma que o grupo, ele crê ser perigoso o convite da SME/DEI, pois o grupo corre o risco de ser usado para legitimar que houve um debate amplo e depois não suprir o que pretendemos.
Mais atrelado as questões burocráticas e legislativas, o Alex nos orientou para realizarmos uma aprovação mais massiva das propostas do grupo, que de certa forma estaria representando todos os professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil, o que evitaria a preocupação supracitada. Desta forma, aprovaríamos as propostas do grupo em uma plenária, em que todos os professores de Educação Física que atendem de 0 a 5 anos seriam convidados, dando maior representatividade e legitimidade ao movimento.
Outra preocupação levantada no encontro em relação às diretrizes curriculares é sobre a diluição da Educação Física na Educação Infantil à luz da pedagogia da infância, onde a Educação Física pode se perder ou então haver uma posição hierárquica da Pedagogia. Por isso, iremos defender que a Educação Física tenha um capítulo à parte nas diretrizes curriculares, expondo as reais contribuições da área para a faixa etária e concordamos que este conhecimento não será materializado quando mediado pelas pedagogas. É também uma forma de garantir politicamente o espaço dos profissionais de Educação Física nestas instituições.
Uma CI (comunicação interna) enviada pela SME/DEI para todos os professores de Educação Física da Educação Infantil, também foi pauta deste encontro. Receosos, julgamos que o documento é suspeito, pois ele pode ter a intenção de mapear como está sendo feito o trabalho dos professores de Educação Física e verificar se está de acordo com a portaria 036/07, usando isto como dado contra as propostas do grupo, principalmente no que se refere à organização do tempo. Em outras palavras, a SME/DEI poderia estar fazendo um levantamento de quantas instituições organizam o tempo de outra maneira, que pensamos não serem muitas, e usar este fato para legitimar e reafirmar a atual organização, de três sessões semanais de quarenta e cinco minutos. Porém, a pergunta que deixamos é: como os profissionais irão superar a atual organização do tempo se não são fornecidos subsídios teórico –metodológicos suficientes para tal? Concordamos que esta carência deveria ser suprida no processo de formação continuada e nas diretrizes curriculares, incentivando propostas atreladas as necessidades e tempo da criança, onde a organização do tempo de cada aula/momento da Educação Física certamente não será o mesmo, ou seja, intentamos uma flexibilização do tempo pedagógico, e que ao longo do processo docente, os educadores percebem através do olhar atento e da reflexão, o tempo necessário para as atividades propostas, inclusive que este pode variar.
Concluindo o encontro e discutindo como materializar as propostas debatidas, decidimos enviar o documento – manifesto elaborado pelo grupo para a SME/DEI, somando a este o aviso de que o debate será ampliado para a rede. Agora iremos trabalhar na construção de um projeto de formação continuada, propondo todos os aspectos teórico – metodológicos, com o cronograma, os temas, as oficinas e os ministrantes.
Após concluirmos o projeto de formação, o mesmo será votado em assembléia a ser realizada no dia 19/05, onde todos os professores de Educação Física serão convidados. Nesta assembléia, o debate será aberto e alguns integrantes do grupo irão argumentar, suprindo possíveis dúvidas ou contraposições.
Para efetivar o convite a todos os professores da rede, decidimos passar em todas as unidades de atendimento infantil no município de Florianópolis, apresentando e esclarecendo a proposta e fazer o convite para participar da plenária. Esta tarefa será dividida entre os integrantes do grupo, que terá o apoio do Alex e do sindicato, com possíveis gastos de materiais, ligações, deslocamentos, etc.
Com esta proposta de aprovação mais massiva, pensamos estar nos protegendo de possíveis “golpes”, mas também julgamos ser uma iniciativa a favor da democracia, envolvendo o maior número de profissionais que atuam nesta realidade.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

RELATÓRIO 31/03/09

Os professores de Educação Física desde 1982 atuam na Educação Infantil no município de Florianópolis. Este período considerável não foi sendo alimentado pelo debate crítico, tendo começado a partir da segunda metade da década de noventa, com os avanços das discussões a respeito da infância e também no campo da Educação Física.
É preciso lembrar que nem sempre a Educação Física esteve presente nas creches e NEI´s. Estas instituições, que foram uma conquista da classe trabalhadora, surgiram com um caráter muito assistencialista, voltado para o cuidado e guarda das crianças. Por muito tempo este ideal prevaleceu na Educação Infantil e de certa maneira ainda pauta o trabalho pedagógico dos profissionais que atuam com esta faixa etária, por um motivo óbvio, as crianças precisam de cuidados em relação à higiene, alimentação, integridade física, porém foi somado a esta perspectiva assistencialista uma dimensão educativa, ou seja, além dos cuidados as crianças precisavam ser humanizadas.
Neste contexto a Educação Física vem se fortalecendo, pelo menos com a presença de professores atuando nestas instituições, e mais recentemente com importantes pesquisas de Sayão na área, aprofundando e clareando o fazer pedagógico do profissional de Educação Física nas unidades de ensino infantil.
O grupo concorda que a formação acadêmica é um dos fatores que contribuiu para este cenário, sendo uma formação altamente escolarizante e pautada por um disciplinamento muito forte, tendo tido (e ainda) grande influência do treinamento desportivo, principalmente na questão da divisão do tempo, baseada nos princípios do estímulo, descanso e sobrecarga, buscando o mais alto rendimento, seguindo a lógica das sessões de treinamento, aquecimento, parte principal e volta à calma. Talvez por esta razão que a Educação Física escolar e também infantil se configura em três aulas semanais, normalmente em dias intercalados, obedecendo exatamente aos princípios expostos acima.
Outra questão da formação profissional é o déficit de conhecimento em relação à Educação Infantil, pois como denuncia Sayão, “há, evidentemente, um certo descaso com a atuação desses/as profissionais, que se expressa, por exemplo, nos currículos de formação dos cursos de graduação que não incluem uma discussão acerca da infância e das crianças pequenas para além do Desenvolvimento Motor, da Recreação e da Psicomotricidade”. A materialização prática deste conhecimento defasado são aulas de Educação Física na Educação Infantil muito parecidas com as da Educação Física escolar, o que não é errado, mas devemos pensar em como trabalhar os conteúdos da Educação Física escolar na Educação Infantil, quais as contribuições que podem ser relevantes na educação dos pequenos. Refletir sobre a prática e conceber o exercício docente como um processo são ferramentas que podem ajudar a encontrar a empatia entre as necessidades e interesses das crianças e os conteúdos trabalhados.
Os debates contemporâneos encontram um ponto de tensão entre a pedagogia da infância, que busca uma educação integral das crianças, sem fragmentar em disciplinas o conhecimento e também o tempo, e a Educação Física, que é a única disciplina presente na Educação Infantil com um professor específico. Este impasse nos traz algumas questões para reflexão: É necessária a presença de um professor de Educação Física na Educação Infantil?; As pedagogas dariam conta de suprir as necessidades das crianças no que se refere ao movimento?; Como organizar o tempo pedagógico da Educação Física?; É possível haver uma flexibilização do tempo?; O que legitima a presença de professores de Educação Física nestas instituições de ensino?
Algumas propostas desenvolvidas na rede trazem respostas positivas para estas indagações, mas vale lembrar que a Educação Infantil e consequentemente a Educação Física sofre com disputas por campo de trabalho, ego, o que dificulta uma proposta conjunta que cotemple as necessidades das crianças.
Quando nos referimos ao âmbito da Educação Infantil, alguns conteudos/linguagens são tidos como tabus, como por exemplo trabalhar o esporte. É claro que não estamos falando da iniciação ao esporte ou mesmo a modalidade em si, com suas regras. Nos referimos em decodificar as práticas corporais esportivas em elementos que possam ser ensinados na Educação Física. Propostas nesta perspectiva estão sendo experimentadas por professores participantes do grupo, que relatam uma aceitação muito grande por parte das crianças, mas também que exerce uma função importante, que é o aprendizado da técnica.
O professor de Educação Física assume um papel imprescindível nesta decodificação dos movimentos, é preciso ficar atento, pois pode cometer equívocos e reforçar o fetiche pela técnica, além de limitar as possibilidades de movimentos corporais. Infelizmente, as propostas citadas acima estão fortemente vinculadas à experiência pessoal em alguma modalidade ou por esforço próprio dos profissionais, não recebendo a devida atenção nos cursos de graduação em Educação Física.
É inegável a força do fenômeno esportivo na sociedade contemporânea, e sua onipresença nas escolas acaba inibindo a vivência de outros elementos da cultura corporal. Por isto, ressaltamos que na Educação Infantil o esporte deve assumir outro sentido, caminhando na direção de ampliar o repertório de movimentos das crianças, se apropriando de alguns movimentos técnicos presentes em conteúdos clássicos da Educação Física, como o atletismo e a ginástica, por exemplo.
Este aprendizado de algumas técnicas corporais propiciam sensações, saberes e sentimentos que são interessantes. Percebe-se na afirmação que o gesto técnico não é o objetivo almejado e sim o conteúdo da experiência, a vivência. No decorrer destas experiências o professor deve ter o olhar atento e boa comunicação com seu grupo para propor desafios, incentivando que as crianças reelaborem e resignifiquem estes movimentos.
A sistematização destas práticas é uma importante tarefa, e exige planejamento, estudo (formação continuada) e reflexão. Novamente, pensar o trabalho docente como processo é outro fator a favor nesta sistematização, na medida em que as problemáticas forem emergindo das práticas pedagógicas, estratégias para enfrentá-las vão sendo construídas, absorvendo este aprendizado para repensar e reelaborar a proposta de trabalho. Pensar as aulas como episódios, que tem fim em si mesma, as experiências de sucesso e fracasso acabam caindo no esquecimento ou são lembradas de forma difusa.
Um problema oriundo da realidade concreta debatida no encontro foi em relação a negação de participação das crianças nas aulas de Educação Física. Concordamos que o professor não pode ser condizente com esta atitude, ele tem um compromisso pedagógico. Uma estratégia que vem sendo utilizada por professores do grupo e que como relatam, tem sido eficaz, é não obrigar o aluno a participar, porém é obrigatória a presença dele no local onde as atividades serão desenvolvidas. As crianças que não participam, ao verem os amiguinhos se divertindo, acabam sendo contagiadas e querem participar. Não estamos afirmando que esta é uma receita que deve ser aplicada nestes casos, são os relatos de professores que construíram mecanismos para enfrentar dificuldades, usando para tal a reflexão sobre a prática, num permanente processo de autoavaliação.
A relação pedagógica (professor-aluno) é sempre uma relação de autoridade, o que não significa que precisa ser autoritária. Ser condizente com todas as vontades das crianças é transformar as aulas de Educação Física em uma mercadoria a ser consumida por elas, e isto não é de forma alguma o que pretendemos neste grupo, a Educação Física tem um compromisso, um conhecimento a ser transmitido/construído para e com as crianças.
Outra problemática que faz parte da rotina nas instituições que atendem de 0 à 5 anos, é a questão da violência. O professor não pode de maneira alguma negligenciar e simplesmente fingir que não viu, até por que o professor é visto pelas crianças como a figura do adulto, capaz de resolver os problemas. Constantemente as crianças reclamam com o professor quando estas situações acontecem. Novamente deve-se buscar meios para intervir, apoiando-se em valores que devem estar imbutidos no processo educacional. Uma estratégia relatada por uma professora participante do grupo para enfrentar o problema da violência em suas aulas, foi dividir a turma, ficando com menos crianças, podendo dar maior atenção a cada uma, proporcionando experiências menos violentas.
Travamos uma breve discussão sobre o texto recomendado, principalmente na relação da técnica com a mímeses. A mímese, que se manifesta de uma forma espontânea, é de grande importância para a constituição do ser social, imitando o outro e neste processo, se reconhecendo no outro. Uma experiência vivida por uma professora do grupo, nos traz uma indicação de como a mímeses pode desempenhar um importante papel na aprendizagem de alguns movimentos corporais que são interessantes. Ela nos relatou que em um momento da Educação Física, em que a atividade proposta era brincar de perna-de-pau, nenhuma criança se sentia segura para andar, e epós ela ( a professora de Educação Física ) experimentar a brincadeira, mostrando para as crianças alguns movimentos técnicos necessários, as crianças ficaram confiantes e desfrutaram da brincadeira.
Tema constante nos debates do grupo, a organização do tempo foi mais uma vez alvo de nossas discussões. O grupo possui argumentos provindos das práticas pedagógicas, suficiente para conceber o tempo institucionalmente, em que a Educação Física pode durar mais ou menos que os atuais 45 minutos previsto na lei, dependendo da dinâmica e da experiência proposta. O relato de uma professora do grupo, que desenvolveu uma atividade e passou da hora que as crianças normalmente almoçavam, nos traz uma importante e intrigante questão para reflexão, parece haver um descompasso entre o tempo da instituição e o das crianças.
Algumas propostas de superação do tempo estão sendo experimentadas na rede, e uma delas é o momento denominado pelo grupo de interação, que consiste em proporcionar uma experiência de interação entre diferentes turmas, com diferentes idades ou não, normalmente por um período inteiro.
O professor de Educação Física é uma figura privilegiada dentro da instituição para organizar estas atividades, por não estar vinculado a uma turma especificamente. Não é o fato de o professor de Educação Física coordenar que exime as professoras de sala de participarem. Agregar outros profissionais nesta proposta, colabora no sentido de amplair as possibilidades de brincadeiras, podendo atender diversas idades, com diferentes interesses, além de que o professor de Educação Física não daria conta de supervisionar 2 ou 3 turmas ao mesmo tempo, isto quando não é toda a instituição. A participação das professoras de sala e mesmo a efetivação desta proposta inovadora deve também ser pensada como um processo, que é construído com a convivência e a troca de experiências entre os profissionais que atuam nas creches e NEI´s.
Finalizando o encontro, conversamos brevemente sobre a idéia que na Educação Física Infantil todas as crianças devem fazer a mesma atividade ao mesmo tempo. As crianças são oriundas de diferentes contextos sócio-culturais, sendo assim, com diferentes interesses e aprendizagens. Identificar estes interesses e aprendizagens pode ajudar o professor de Educação Física a diversificar suas intervenções, proporcionando para as crianças um vasto repertório de vivências corporais, e que o grupo argumenta ser de extrema importancia para o desenvolvimento integral da criança.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

RELATÓRIO 17/03/09

No primeiro encontro do ano fizemos uma breve recapitulação das temáticas debatidas no ano anterior, bem como uma auto-avaliação do processo desenvolvido. Além de almejar a avaliação, também teve o intuito de encaminhar os aspectos metodológicos para este ano, usando como base a experiência recente para reformular a proposta e agregar outros elementos para avançar cada vez mais a discussão sobre a Educação Física na Educação Infantil e também na perspectiva de produção de material didático de apoio aos professores da rede.
É consenso no grupo, que desde julho de 2004 vem debatendo a presença da Educação Física na Educação Infantil, que chegou a hora de uma aproximação maior com a secretaria municipal de educação, no sentido de partir para uma contribuição propositiva, principalmente no que se refere a organização do tempo pedagógico da Educação Física na Educação Infantil, que atualmente é dividido em três sessões semanais de 45 minutos.
Apesar do caráter escolarizante que a Educação Física se configura nas instituições de ensino que atendem crianças de 0 à 5 anos na questão do tempo, algumas propostas de superação deste modelo já estão consolidadas e começam a dar “frutos”, como relatado por uma professora participante do grupo, que mudou de instituição e encontrou uma situação favorável para desenvolver um trabalho nesta perspectiva, “herança” esta deixada pela antiga professora, que também faz parte do grupo.
Esta luta travada pelos participantes do grupo caminha no sentido de “ultrapassar as fronteiras estanques que determinam a especificidade das diferentes áreas do conhecimento e abrir espaço para a troca, a discussão, a integração entre os diferentes profissionais que atuam com crianças pequenas, que isoladamente, não conseguem construir um trabalho voltado para as “reais” necessidades que exige o mundo infantil, tendo em vista que estas necessidades perpassam uma gama de áreas do conhecimento”, (Sayão, 1999). Sendo assim, o professor de Educação Física deve se articular dentro da instituição para não ser um prestador de serviço desvinculado do contexto onde atua.
Ainda há grande diferença entre as instituições que atendem os pequenos, enquanto algumas propostas inovadoras já se concretizaram, em outras, os professores de Educação Física enfrentam problemas, como relatado por uma professora, que ao chegar na creche a professora de sala disse para ela (professora de Educação Física) se envolver no projeto dela (professora de sala) e que desse aula no parquinho, porque se algumas crianças não quisessem fazer as atividades, poderiam ficar brincando com ela (professora de sala). Este tipo de dificuldade não está desvinculado da história da Educação Física na Educação Infantil e como lembrado pelo professor ministrante, a professora de sala pelo menos demonstrou preocupação em incluir a Educação Física, ainda que de uma forma equivocada, pois houve tempos em que o diálogo não existia.
Retomamos brevemente uma discussão empreendida pelo grupo no ano anterior em relação a técnica. Há uma falsa idéia de que a técnica coíbe a criatividade, espontaneidade, porém a concebemos por um outro ponto de vista, a técnica como um elemento potencializador da ampliação do repertório de movimentos, em que a criança com um aparato técnico cria outras possibilidades, outros sentidos, peculiares desta fase, construindo assim a cultura infantil.
O domínio da técnica é de certa maneira o domínio do próprio corpo, então, ela assume grande importância quando nos referimos à segurança, e para além disto, o processo de aprendizagem da técnica proporciona momentos prazerosos para as crianças, que vivenciam e desfrutam a possibilidade de fazer um determinado movimento com satisfação, como descrito diversas vezes pelos participantes do grupo, além de começarem a atribuir um valor estético para os movimentos.
Surgiu a idéia de convidar alguns supervisores, que são figuras importantes na organização pedagógica das instituições, para participar dos encontros de formação, porém esta proposta ainda deve ser melhor debatida e articulada pelo grupo.
Algumas propostas/idéias para o ano que se segue começaram a tomar corpo neste encontro, são elas: 1) Ampliar a documentação de práticas pedagógicas através do registro pessoal; 2) Buscar elementos que perpassem as práticas de Educação Física na Educação Infantil, algumas generalidades, em relação as dificuldades e como as enfrentam, a práticas bem sucedidas, entre outros, para então analisar o que podemos adentrar e buscar uma compreensão maior; 3) Acompanhar sistematicamente um processo desenvolvido em 1 instituição e tirar elementos que possam fomentar debates; 4) Promover oficinas de formação, atreladas ao contexto do processo e não como episódios isolados;

Bibliografia
SAYÃO, D. T. Educação Física e educação infantil: riscos, conflitos e controvérsias. In: Motrivivência, Florianópolis, ano XI, n. 13, nov. 1999. p. 221 – 238.