Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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sábado, 10 de dezembro de 2011

Relatório do dia 29/11/2011 - Formação Continuada dos Professores da Rede Municipal de Educação de Florianópolis

No dia 29 de novembro de 2011, às 09h e 15min, teve início o Encontro do Grupo Independente. Ele contou com a presença de dezesseis (16) professores, bem como de três bolsistas do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).
O encontro foi coordenado pelo Professor Alexandre Fernandez Vaz e teve como tema um diálogo com o Professor Valter Bracht acerca do trabalho intitulado “Do abandono pedagógico às experiências inovadoras: lacunas e caminhos para a Educação Física Escolar”, de Felipe Quintão de Almeida.
Inicialmente Alexandre fez uma fala comentando sobre a importância daquele momento para a formação de todos os presentes e elogiou a iniciativa do grupo em valorizar a presença de um professor como Valter Bracht. Valter “possui doutorado - Universität Oldenburg (1990). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Espírito Santo, onde coordena o Laboratório de Estudos em Educação Física do CEFD. Foi presidente do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (1991/93 e 1993/95). Tem experiência na área de Educação Física, atuando principalmente nos seguintes temas: educação física escolar, formação continuada de professores, educação e epistemologia” (Currículo Lattes do Professor).
O encontro foi dividido em dois momentos distintos, no primeiro Valter fez uma fala explicando alguns pontos presentes no texto supracitado e posteriormente foi aberta a possibilidade de questionamentos, não limitados ao assunto discutido.
Valter iniciou sua fala comentando que uma das formas encontradas por ele para manter o contato com a escola e sua realidade é através destas conversas com professores, outra é a partir dos seus orientandos e suas pesquisas, por fim através de seus filhos que estudam em colégio públicos, possibilitando assim uma aproximação a este universo. Valter destacou ainda que a formação continuada é muito importante para o trabalho pedagógico dos professores, agradecendo assim o convite feito.
A conversa foi baseada em dois aspectos presentes no texto, foram eles o desinvestimento e a inovação pedagógica. Ao falar sobre o desinvestimento pedagógico ele comenta que nos últimos anos (mais intensamente) ocorreu um tipo de prática entre os professores de Educação Física configurando um certo abandono docente, surgiam os chamados “professor rola bola”, que em sua aula apenas oferecem uma bola para que os alunos brinquem "livremente", gerando um abandono do compromisso com a prática, de maneira que a aula passou a não mais se configurar como tal.
Ao se falar sobre esse fenômeno era comum a culpa recair sobre o professor, ocorria certa afirmação no sentido de que ele não teria um compromisso pedagógico para com sua aula, assim pessoalizando o mesmo. No entanto segundo Valter esta é uma explicação não produtiva, muito vaga, incompleta para explicar tal realidade tão complexa. É importante pensar em um conjunto de fatores que contribuem para esse desinvestimento. Para Valter o movimento renovador involuntariamente contribuiu para este fenômeno, visto que na década de 1970 a formação ocorria de maneira muito tradicional, tecnicista, formatada em um tipo de padrão metodológico, os professores tinham claro sua função, bem como o que deviam ensinar em suas aulas (o método se resumia em: aquecimento, parte principal e volta calma). O sucesso do professor, naquela época, era frequentemente medido pelo desempenho de seus alunos em jogos escolares. Foi então que apareceu o movimento renovador, que veio para criticar aquele modelo de Educação Física. Desta forma tira-se a certeza do que é Educação Física, causando um hiato, apelando para uma "maior autonomia" do professor, deixando-o muitas vezes sem saber o que fazer.
Ao se voltar mais especificamente para a pesquisa realizada, Valter explica que muitos professores abandonam a docência devido a doenças causadas pelo trabalho, entre outros, no entanto salienta que a investigação foi feita com aqueles professores que adoecem mas não abandonam, continuam ministrando aulas, mas desinvestidos. Não largam seu posto de trabalho, mas abandonam o compromisso com a qualidade docente.
Este desinvestimento pode ocorrer em diferentes momentos, um deles é assim que o professor sai da Universidade e vai dar aulas, quando ocorre um choque de realidade em que não se tem os materiais, espaços adequados, quantidades de alunos muito mais elevada do que se tinha nas simulações da graduação. Muitos professores já abandonam aí, os que não o fazem continuam seu trabalho com uma maior segurança depois de algum tempo e experiências. Outra fase em que pode ocorrer o desinvestimento é próximo à aposentadoria, quando o professor começa a questionar todo o seu trabalho, às vezes não se sente realizado com o que faz e principalmente não vê a hora de se aposentar, esse momento pode ser acompanhado pelo sentimento de frustração.
Valter destaca que este fenômeno é chamado de estado de desinvestimento, visto que pode ocorrer em qualquer momento da carreira, ou nem mesmo acontecer. Afirma que ao irmos analisar uma prática não podemos fazer isso tomados de preconceito, já que muitas vezes a prática pode parecer de desinvestimento, mas não se configurar realmente como tal.
Segundo Valter, existem inúmeras características que afirmam o desinvestimento, dentre elas podemos citar a dispensa dos alunos das aulas (na forma de sua substituição por atividades em outras instituições, como academias e clubes), as aulas que sempre ocorrem de maneira igual para todas as séries, os professores que se fazem presentes, mas não dão aula, entre outros. Uma das maneiras de o professor justificar suas atitudes é por meio da crença no imediato valor educativo do esporte, assim, ao largar uma bola para as crianças ele acredita estar de alguma forma as educando. A partir destas características o professor deixa de encontrar em seu trabalho uma realização para sua vida, não investindo mais em sua profissão.
Ao falar sobre os elementos que contribuem para o desinvestimento, Valter salienta que não se tem uma causa para o fenômeno, mas sim elementos que combinados ajudam a compreendê-lo. Alguns destes elementos se fazem comuns para a maior parte dos professores. São eles, principalmente (retirados do texto “Do abandono pedagógico às experiências inovadoras: lacunas e caminhos para a Educação Física Escolar”, de Felipe Quintão de Almeida.):

1. Falta de investimento na formação docente.
2. Remuneração salarial defasada.
3. Formação acadêmica (inicial) inadequada.
4. Alta rotatividade dos professores entre as escolas (Designações Temporárias- DT).
5. Ambientes de trabalhos inseguros e violentos.
6. Mudança radical na relação entre os professores e os alunos.
7. A exigência de cumprir múltiplos papéis sociais dentro da escola (muitos dos quais, antes, eram de responsabilidade da família).
8. Relações interpessoais conflituosas com colegas de trabalho.
9. Ausência de condições materiais para o exercício da profissão.
10. Ausência de trabalho coletivo: o trabalho isolado e independente dos professores dificulta a construção de projetos interdisciplinares, colaborativos e participativos.
11. Tomadas de decisão centradas na figura dos gestores administrativos da escola, sem considerar as decisões e os saberes dos professores.
12. Relação do tipo "tarefeira" estabelecida entre os professores e a equipe de gestão pedagógica. As principais exigências feitas orientam-se pelo cumprimento de tarefas mais burocráticas (entrega de planos de ensino, das pautas de chamadas e de notas).

Ao falar sobre esses elementos, Valter destaca alguns, afirmando que o preconceito contra o magistério, o ser professor, é muito grande e a falta de reconhecimento culmina em uma baixa autoestima dos professores. Valter afirma já ter escutado a seguinte frase “Se você não sabe fazer nada, vai ser professor” o que reafirma uma visão preconceituosa sobre a profissão. Em algumas instituições há um preconceito da parte docente em relação ao professor de Educação Física, notamos este fenômeno quando o mesmo não se reuni na sala dos professores e acaba ficando a maior parte em uma salinha especial da área, ou até quando o salário deste profissional é inferior aos dos outros professores. Foi comentado também sobre a dificuldade que o professor tem em reagir às mudanças comportamentais dos alunos, bem como sobre a hipertrofia curricular, em que a escola passa a assumir papéis antes destinados a família. No entanto quando se trata da Educação Física ocorre um macrofator que contribui para o desinvestimento, ele diz respeito a posição que a Educação Física ocupa na cultura escolar. Valter destaca que o professor tem que lutar pelo reconhecimento da sua disciplina e de seu trabalho, mostrando a todos que a Educação Física tem papel relevante, é um conhecimento importante. Para haver este reconhecimento é essencial conhecer, desta forma o professor não deve manter-se isolado no trabalho pedagógico.
Valter nos lembra então que a participação em grupos de estudos e formação continuada auxilia o professor a sair da situação de desinvestimento, passando assim a acreditar mais em sua prática pedagógica e perceber seu lugar na escola.
O segundo aspecto presente no texto e que serviu como base para a conversa foi o da inovação pedagógica. Valter nos chamou atenção para o fato de que em um mesmo contexto em que existem muitos professores em situação de desinvestimento há aquele professor que constrói uma prática inovadora. Segundo levantamentos realizados, as práticas inovadoras são predominantes entre as mulheres e nos anos iniciais, ocorrem mais facilmente entre aqueles professores que não tiveram sua formação inicial baseada unicamente no esporte, mas que tenham tido experiências com dança, teatro, circo, entre outras, tendo assim uma formação cultural mais ampla.
Uma das características presentes nestes professores é a de não ter "medo da teoria" e sim possuir uma postura positiva frente a ela, vendo-a como uma aliada a sua prática pedagógica. Além disso, eles buscam a participação dos alunos frente às questões presentes na aula, problematizando-as com o conteúdo. Tentam a todo momento fazer a Educação Física ser reconhecida como um conhecimento importante dentro da escola.
Segundo Valter, a pesquisa realizada ajuda a pensar e a entender a importância e de que forma devem ocorrer a formação continuada, bem como a formação inicial dos professores.
Após a conversa inicial foi aberto um espaço para se tirar dúvidas sobre o assunto explanado, bem como levantar outras questões mesmo que sem ligação direta com o tema. Muitos professores levantaram questões, citamos aqui algumas delas, não considerando as demais menos importantes. (- perguntas feitas pelos professores; * falas do Valter).
- O coletivo poderia minimizar este desinvestimento?
* Temos que tomar cuidado para não eximir de responsabilidade o professor. Ele tem responsabilidade quanto a sua prática pedagógica, ao perceber que aquilo não faz mais sentido para ele, o mesmo deve procurar outra coisa para fazer.

- Como chamar e despertar interesse nos professores para a participação na formação continuada?
* Este é um dilema. Políticas de formação compulsórias têm pouca adesão por parte dos professores. A formação continuada deve ocorrer por adesão voluntária, tendo apoio institucional, tomando como lócus a própria unidade. Deveria ocorrer também uma ascensão na carreira a partir da formação continuada.
* A Educação Infantil tem uma tarefa mais difícil do que a do Ensino Fundamental, visto que na formação inicial este segmento não é tão abordado. Este tipo de iniciativa (Grupo Independente) é uma tentativa de melhorar isto. A identidade do profissional da Educação Física geralmente não é estruturada em sua formação inicial, sendo desta forma importante pensar o que se está fazendo nela que não vem interferindo na formação/identidade do professor. Talvez uma forma de amenizar isso fosse fazer com que o aluno tenha um contato maior e mais inicial com a realidade escolar durante sua formação.
* Os programas de formação continuada são importantes e sua modalidade deveria ser baseada na pesquisa-ação. Na formação inicial há uma tentativa de formar um professor reflexivo, no entanto os alunos muitas vezes não conseguem articular a teoria à prática, neste sentido é importante que o acadêmico assuma a sua formação, pensando melhor neste processo.
* Fez-se importante propor questões da Educação Física aos pedagogos, normalmente colocamos questões da Educação em geral para a Educação Física e não o contrário.
* Falta para a formação dos professores eles escreverem mais sobre suas práticas.
* “É importante se gastar com educação, se não for prioridade, não é educação”.
Em nome de todo o Grupo Independente agradecemos a disponibilidade dos professores Alexandre e Valter a participar e engrandecer nosso último encontro do ano.