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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Jogos de construção: Uma possibilidade pedagógica.



Creche Jardim Atlântico
Educação Física
Geisa M. L. Santana

Jogos de construção: Uma possibilidade pedagógica.


Muitas concepções, ao tratar do brincar, colocam em segundo plano, ou mesmo descartam a dimensão social da atividade humana que o jogo assume, desvalorizando-o em relação a outras atividades ou comportamentos. O brincar, sendo uma atividade permeada de significação social deve e precisa ser ensinado e aprendido.
Segundo Elkonin (1998, p233)
O estudo do desenvolvimento do jogo protagonizado é interessante em dois sentidos: primeiro, porque assim se descobre com maior profundidade a essência do jogo; segundo, porque, ao descobrir a conexão mútua dos diferentes componentes estruturais do jogo em seu desenvolvimento, pode-se facilitar a direção pedagógica e a formação dessa importantíssima atividade da criança.

Para esse autor, o elemento fundamental do jogo é a situação fictícia, que é o momento em que a criança adota o papel do adulto, revela a cultura que está inserida e interpreta funções sociais. Durante esse processo as crianças representam papéis de maneira muito particular, quando ocorrem  assimilações de regras de conduta social, contribuindo para a formação de sua personalidade. Ou seja, o jogo de papéis é de origem social.
De acordo com Elkonin (1998), durante a idade pré-escolar os jogos comuns são os jogos de enredo, que possuem uma situação imaginária na qual a criança desempenha papéis sociais e apresenta uma evolução na estrutura do jogo. As crianças muito pequenas criam seus jogos sem enredos, compostos por episódios sem ligação entre si. Aos três e quatro anos as crianças extraem seus elementos para construção das brincadeiras de forma fragmentária da vida pessoal ou do seu meio imediato, criando uma relação com suas fantasias. Em grupos de crianças mais velhas estes enredos já são mais elaborados refletindo acontecimentos da vida pessoal e social.
Usova (1998 p.238 apud Elkonin) investigou questões relacionadas à direção dos jogos infantis e assinala uma série de elementos do desenvolvimento dos jogos, das quais se deve partir para organizá-los.
“...os jogos das crianças já apresentam aos três anos de idade um caráter temático e desenvolvem-se com intensidade nessa direção até os sete anos. Estabelece ela que, (...)os princípios motores determinantes do jogo...baseiam-se na aprendizagem gradual do papel que a criança desempenha numa coletividade infantil. O tema do jogo e seus papéis determinam a atitude das crianças em face do jogo... “

A autora revela dados importantes sobre a presença de argumentos nos jogos das crianças mais novas e data o surgimento dos jogos temáticos na idade pré–escolar. Usova (1998) vê nos jogos das crianças pequenas elementos importantes para a evolução consecutiva do jogo: nas ações lúdicas, nos elementos de protagonização e nas ações histriônicas.
Apesar de suas pesquisas não se deterem em pormenores da relação existente entre peculiaridades soltas no jogo infantil e o desenvolvimento do argumento[1], seus dados revelam que a autora acredita dependerem dessas peculiaridades o desenvolvimento e a essência de todo o jogo protagonizado.
 Elkonin e seus colaboradores em pesquisas experimentais, mostraram que o caminho do desenvolvimento do jogo protagonizado[2] segue o seguinte percurso: da ação concreta com os objetos até a ação lúdica sintetizada, e dela o passo seguinte é a ação lúdica protagonizada. Exemplifica o jogo protagonizado assim: “há a colher; dar de comer com a colher; dar de comer com a colher à boneca; dar de comer à boneca com a mamãe”. ELKONIN (1998 p.259).
Com a evolução do jogo protagonizado a criança cria uma situação adequada ao jogo e possui uma situação imaginária e regras implícitas no papel a ser desempenhado. Mais tarde, com o avançar da idade, a situação imaginária fica latente e as regras se sobressaem no jogo, caracterizando o jogo de regras.
Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Os jogos com regras não nascem aleatoriamente, mas da necessidade da


[1]    De acordo com Usova, para haver um bom argumento de jogo, dependerá da relação das crianças entre si e do grau de concordância sobre o tema do jogo. Investiga o papel que exerce o trabalho instrutivo no processo educativo das crianças em idade pré-escolar e os elementos deste processo de formação, que envolve uma didática adequada e que seja voltada para a necessidade de desenvolver conhecimentos e habilidades nas crianças, não basta que as crianças tenham noções isoladas sobre as informações e os fenômenos do mundo real.
[2]    O jogo protagonizado, jogo de enredo, jogo de papéis, jogo de representação e jogo simbólico termos utilizados como sinônimos entre si.
própria função lúdica da criança em organizar a brincadeira e de ter uma maior compreensão das relações sociais.
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própria função lúdica da criança em organizar a brincadeira e de ter uma maior compreensão das relações sociais.
 
Portanto a brincadeira é situação privilegiada deaprendizagem infantil onde 
o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela 
possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela 
negociação de regras de convivência e de conteúdos temáticos. (WAYSKOP,
p. 35, 1995)

No jogo simbólico é possível permitir utilizar uma lógica própria, buscar uma organização espaço-temporal particular, ser capaz de criar regras, estabelecer limites. E também ser capaz de quebrar regras, romper com os limites estabelecidos. Brincar é partilhar emoções, vivências consigo próprio ou com os demais. É tão significativo brincar que, na ausência de pessoas e de brinquedos, a criança cria amigos imaginários com quem estabelece relações que possibilitem partilhar a brincadeira.
A criança demonstra que começou a pensar quando inicia conosco uma comunicação em linguagem verbal, social. Nesse momento, ela já tem o que comunicar: fala sobre o que representa de suas ações no mundo. Nessa nova etapa da viagem, a criança penetra num mundo extremamente diferente do mundo dos adultos, que é o mundo da fantasia, do faz de conta (FREIRE, 1989, p. 37)

Segundo Freire (1989 p.37)
O que há de realmente diferente nesta nova fase, que é a chamada pré-escola, é a viagem pela fantasia. O pensamento, como o corpo o fora na etapa anterior, precisa ser exercitado. Ou seja, é preciso aprender a pensar. Quem sabe algum dia a escola da primeira infância descubra que para aprender a pensar é necessário, entre outras coisas, viver o mundo da fantasia?

Assim, é importante lembrar-se da importância de permitir que as crianças se deleitem na oportunidade de novas descobertas, de novas criações, nas quais o universo infantil esteja sendo criado e recriado constantemente e, nesse contexto, a Educação Física possa alimentar suas fantasias, competências e suas múltiplas formas de expressão.

4.1  JOGO, IMAGINAÇÃO E CULTURA.



O homem é caracterizado como um ser cultural. Ao atuar no mundo, ele o faz culturalmente, por meio de cultura e inserido numa dada cultura. De acordo com Freire (2002, p. 86)
(...) Seu instrumento particular e privilegiado de adaptação ao mundo é o símbolo interno a imaginação, a capacidade interna de representar as coisas e os acontecimentos. Quanto à natureza, hostil ao homem, com sua habilidade especial ele a modifica e cria sua própria natureza: a cultura. Com a cultura o ser humano pode interagir. (...)
A construção e criação de linguagens e símbolos trazem à tona a dimensão dos afetos e dos aspectos cognitivos. Criar cultura, construir sentidos e formas, se dão também, através da imaginação, na interação com outro, no jogo entre o visível e o invisível, pelo contato e (re) conhecimento das múltiplas formas de expressão, compreensões e interpretações da realidade. A imaginação, a fantasia e o brincar representam manifestações de criações sentidos através de gestos, olhares, falas, demonstrações de afeto, emoções e são constituintes e constituidores das culturas.
As crianças também produzem culturas, já que estas manifestações são explicitadas na infância, e é por meio delas que agem no mundo, compreendem e dão sentidos (novos ou não) à realidade que as cerca.

 Para Macedo,
Graças ao faz de conta, a criança pode imaginar, imitar, criar ou jogar simbolicamente e assim, pouco a pouco, vai reconstituindo em esquemas verbais ou simbólicos tudo aquilo que desenvolveu em seu primeiro ou segundo ano de vida. Com isso, pode ampliar seu mundo, estendendo ou aprofundando seus conhecimentos para além de seu próprio corpo; pode encurtar tempos, alargar espaços, substituir objetos, criar acontecimentos. Além disso, pode entrar no universo de sua cultura ou sociedade aprendendo costumes, regras e limites. (MACEDO, 2004, p. 12)
Sendo assim, não podemos deixar de mencionar que as crianças vivem intensamente todos os seus momentos, imaginam, criam, usam de diferentes linguagens e transitam com facilidade e desenvoltura pelo mundo da fantasia e da realidade. São espontâneas, dão formas e sentidos às coisas que as cercam, constroem e destroem à sua ”moda”.
Segundo Freire (2002, p. 89), “(...) se a cultura humana é uma construção que depende de nossa atividade interior, e o jogo tem a propriedade de ‘sugar’ para esse interior as vivências da realidade, obviamente o jogo passa a ser indispensável à formação de nossa cultura”
Pensar, portanto, o lúdico na vida das crianças, nos remete a refletir em que quadro cultural ele aparece, pois para compreender a produção cultural na infância é necessário observar a cultura infantil. E, ao mesmo tempo, considerar a compreensão da cultura, pois ela permite conhecer a sua criação no tempo de infância.

 Para Brougére (2004, p. 33)
Jogo humano supõe um contexto social e cultural. É preciso, com efeito, romper com o mito do jogo natural. A criança está mergulhada desde o seu nascimento num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por esta imersão inevitável (...) o jogo pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a jogar (...)
Nesta compreensão, o jogo é considerado um fato social, resultado de relações inter­‑individuais de cultura. Assim, cada cultura constrói uma esfera delimitada do que é ou não considerado jogo.
Sarmento (1999), ao tratar da cultura infantil, o faz buscando referência em sua função social, onde emergem categorias que caracterizam a infância, tais como: a etnia, o gênero, a classe social e o trabalho, que determinam de algum modo a forma de vida das crianças. Assim, mesmo que se encontre numa mesma sociedade, a infância vivida por diferentes crianças é heterogênea, pois a cultura produzida nessas infâncias será diversa, não tendo como característica a homogeneidade.
Quinteiro (2000) diz que a cultura infantil é uma rede de significados gestados no interior das relações entre as crianças, e se consolida mediante a re-significação, a reprodução, a produção de vivências sócio-culturais. A diversidade é sua principal característica, pois existem culturas infantis e não uma única cultura infantil.
O processo de construção das culturas infantis apresenta-se em duas dimensões: a coletiva e a individual. A cultura coletiva tem como característica aspectos comuns entre os sujeitos participantes, e a individual caracteriza-se pelos conhecimentos adquiridos nas relações estabelecidas nos diferentes contextos de vida, sejam eles privados ou públicos, que subsidiam a construção das culturas das crianças.
Entretanto, consideramos ser uma aventura complexa pensar o jogo e suas representações, pois é necessário conhecer as crianças e suas construções culturais e sociais. É preciso reconhecer a creche como um espaço plural e não homogêneo, avistando as singularidades existentes, possibilitando assim, práticas pedagógicas que permitam esta produção cultural das crianças.
Nesse sentido, as contribuições de Brougére (1995), descrevem que as crianças pequenas relacionam-se com o meio social de diferentes formas e sendo por meio dessas interações que elas constroem seus repertórios culturais e indicam a importância de ser social.

Para Brougére (2004, p. 15)
A impregnação cultural, ou seja, o mecanismo pelo qual a criança dispõe de elementos dessa cultura, passa entre outras coisas, pela confrontação com imagens, com representações, com formas diversas e variadas. Essas imagens traduzem a realidade que a cerca ou propõem um banco de imagens consideradas como expressiva dentro de um espaço cultural
O jogo torna-se uma importante possibilidade pedagógica, na medida em que passa a ser compreendido como um fenômeno sócio-cultural, privilegiando as pluralidades e singularidades apresentadas na infância. Cabe às instituições de Educação Infantil ampliar e respeitar as culturas nos seus processos de aprendizagens. Refletindo sobre o que significa o “aprender na primeira infância”.
De acordo com Freire & Scaglia (2003, p. 15), “aprender seria a condição fundamental para a vida. Considerando que o meio em que vivemos não é natural, mas cultural, e que a cultura humana se altera a cada instante, precisamos, para dar conta de viver nele, aprender permanentemente.
Esta aprendizagem inclui a atividade lúdica como expressão da linguagem da criança através de sua imaginação e de seus processos de criação, que são dimensões que a constituem como sujeitos humanos e pertencentes a um contexto sócio-cultural. Segundo Freire & Scaglia (2003 p. 31)

Na educação física, o desenvolvimento do indivíduo num meio ambiente humano – portanto cultural e social --deve ser o objetivo principal, independentemente de qualquer divisão que se tente fazer de seu conteúdo em áreas de conhecimento. É preciso valorizar a tarefa coletiva; para isso, em se tratando de educação física, possuímos diversos recursos, dentre eles o privilégio de poder contar com os jogos, vistos, neste trabalho, como simulações da vida social, como microuniversos de uma sociedade em crisálida.
Creches e pré-escolas têm como foco as relações educativas que ocorrem num espaço de convívio coletivo, portanto, as dimensões que os conhecimentos assumem na Educação Infantil, vinculam-se aos processos de constituição da infância, ou seja, a expressão, cultura, afeto, fantasia, o imaginário, socialização, cognição, movimento, brincadeira e a estética.
Rocha (2000, p. 25) destaca: “Reafirma-se uma pedagogia para educação infantil que contemple as diferentes dimensões da criança, suas diferentes linguagens, formas de expressão e criação.”
O jogo proporciona criar uma pedagogia de relacionamentos, no qual as crianças são entendidas como ativamente envolvidas na co- construção do conhecimento e das identidades próprias e dos outros. Está pedagogia de aproximação e de trocas significativas entre as crianças, foi descrita por Malaguzzi, (1999, p. 117)
As crianças aprendem interagindo com seu ambiente e transformando ativamente seus relacionamentos com o mundo dos adultos, das coisas, dos eventos e, de maneiras originais, com seus pares. Em certo sentido as crianças participam da construção da sua identidade e da identidade dos outros. A interação entre elas é uma experiência fundamental durante os primeiros anos de vida. A interação é uma necessidade um desejo, uma necessidade vital que cada criança carrega dentro de si. A auto- aprendizagem e a co-aprendizagem das crianças, apoiada por experiências interativas construídas com ajuda de adultos, determina a seleção e a organização de processos e estratégias que são parte de, e coerentes com _os objetivos gerais da educação da primeira infância. Os conflitos construtivos[resultantes do intercâmbio de ações, expectativas e idéias diferentes] transformam a experiência cognitiva do individuo e promovem aprendizagem e desenvolvimento.
Pensar a complexidade do jogo na Educação Física Infantil, constitui um espaço de intercâmbio, recepção e reconstrução de conhecimentos produzidos pelas crianças e pelo processo de intervenção pedagógica que possibilite refletir e planejar situações que nos aproximem do universo infantil.

De acordo com Batista, (1998, p. 32)
O universo da criança é constituído de imprevisibilidade, espontaneidade, ludicidade, imaginação, criatividade, fantasia, pluralidade, brincadeira do faz de conta, linguagem artística, gestual, corporal, musical, entre tantas outras. Este universo, na maioria das vezes, não cabe dentro de uma estrutura cuja lógica de organização seja linear, fragmentada, burocrática, homogênea, impessoal.
Nesta perspectiva o jogo se torna elemento primordial de aprendizagens, não mais como um processo de adaptação e apropriação de cultura humana, mas de transformação e criação desta cultura. Revela que a cultura por sua vez, pode ser um espaço da totalidade das qualidades e das produções humanas, lugar de troca que produz e veicula projetos da vida humana.
O jogo na primeira infância traz a possibilidade de ampliar as linguagens de expressão, desenvolver a imaginação e seus processos de criação, fazendo com que os adultos revelem o mundo às crianças de diversas maneiras, ampliando sua visão de mundo, apropriando-se de conhecimentos e criando sua própria cultura lúdica.



Trilhando os caminhos: a organização das ações pedagógicas
No primeiro momento essa organização consistiu na preparação do material didático que seria utilizado nos momentos da educação física. Caixas, garrafas, bolas de meia, cordas, latas e tampinhas de garrafas pets foram re-utilizadas e adaptadas conforme os princípios das oficinas do jogo. Além disso, há os materiais conhecidos da Educação Física, como bolas, cordas, e assim por diante.  Os materiais das Oficinas do Jogo foram planejados para, além de produzir conseqüências pedagógicas importantes na formação das crianças, serem bonitos, para encantar as crianças e fazer com que elas queiram participar das aulas. Todo o material é pintado em quatro cores: verde, vermelho, azul e amarelo. São selecionados em cores, tamanhos e formas. Isso aumenta as possibilidades de trabalho. No livro de Freire & Scaglia (2003, p. 63-64) [1], Educação como Prática Corporal, os autores apresentam sugestões de objetos que podem ser confeccionados pelos professores e alunos.
  A organização do projeto de trabalho teve como tema: jogos de construção, jogos simbólicos, brincadeiras populares. As aulas foram  organizadas em ordem crescente de complexidade e desafios. Os participantes desses momentos tinham de 4 a 5 anos, e o grupo era composto de 26 crianças.
 O planejamento de cada aula foi elaborado a partir da avaliação do encontro anterior com as crianças, levando em consideração a percepção dos adultos envolvidos e  a fala das crianças, que eram registradas em um diário de campo. Também foi utilizada  a fotografia e a filmagem, para representar a realidade e imortalizar o momento vivido.  Foi criado então, um caminho para o planejamento, em que a dinâmica do processo era revisto e reescrito conforme as necessidades apresentadas. Ou seja , foi estabelecida  uma ponte entre prática e teoria,  possibilitando perceber aquilo que as crianças copiam, recriam e inovam durante os momentos da educação física  Muitas perguntas foram surgindo durante a realização deste trabalho : o que fomenta a imaginação das crianças? Como aguçar o imaginário das crianças? Que saberes as crianças produzem durante seus jogos simbólicos? O que o planejamento da educação física na educação infantil deve contemplar? Diante dessas perguntas realizei intervenções e construí o planejamento que tinha como foco, não só a ampliação dos movimentos, mas também o fortalecimento do imaginário e a criação.

Temas das aulas:
Construções livres com um único material

Iniciei as aulas com a utilização de um único material.  Na primeira aula utilizei somente as tampinhas; as crianças organizaram-se com a mediação da professora. As crianças criavam, livremente, seus temas.  O ambiente da sala de aula era transformado pelos materiais; as crianças através de suas produções criavam seu próprio mundo, seus brinquedos e materializavam suas imagens através da exploração do material.
De acordo com o registro da aula, feito em um  caderno de anotações que chamei de diário de campo:
[...] Em poucos minutos as construções começaram a aparecer, algumas em relevos, como a flor da S. que tinha o miolo mais alto que as pétalas. As  crianças interagiam, conversavam sobre o que estavam fazendo, formando duplas, uma buscava as tampinhas necessárias e a outra construía o que haviam combinado. Percebemos durante a aula que as construções tinham formas bastante parecidas com que as crianças relatavam sobre suas produções.
No início trabalhei com as crianças individualmente, mas, aos poucos, as crianças procuravam a companhia de outras crianças, para trocar experiências, criando assim, enredos de brincadeiras. Os materiais didáticos eram suportes para as criações, e, em muitos momentos, percebiam-se como as crianças tornavam-se engenheiras, criando estratégias de produções, num exercício de desconstruir e construir.
Durante as aulas coloquei vários desafios para as crianças, como a utilização de determinadas cores, quantidade de materiais, uso do espaço e a organização de grupos. Esses desafios enriqueciam a aula, na medida em que lhes proporcionava interações mais significativas, com o material, com outras crianças e com os adultos.
De acordo com Freire (1989, p.73)
Durante a realização de jogos de construção, julgo imprescindível que o professor converse com as crianças durante a realização das tarefas e ao seu final. Quanto à elaboração, ele atua como mediador das discussões, como desafiador de propostas, como auxiliar dos arranjos. [2]
Esta mediação do adulto através de perguntas e diálogos nos fez compreender não somente como o construtor dá formas ao construído, mas como o construído é criado e re-criado e adquire significados  durante sua produção.
Para Kishimoto (1994, p.30)
Para se compreender a relevância das construções é necessário considerar tanto a fala como a ação da criança que revelam complicadas relações. É importante, também considerar as idéias presentes em tais representações, como elas adquirem tais temas e como o mundo real contribui para a construção das mesmas.[3]
Nas construções das crianças, percebia-se como suas produções eram baseadas em elementos da cultura na qual estavam inseridas.  Ao produzirem com as tampinhas, flores, carros, trens, jogos e outros, as crianças transformavam os espaços em um lugar colorido, cheios de “desenhos” e “esculturas”, criando cenários e elementos que elaboravam suas representações mentais.
A atividade permitiu que as crianças falassem sobre suas produções de forma bastante direta, dando ao brinquedo construído uma intenção clara:
As crianças  ao serem questionadas sobre suas produções  respondiam:
Criança 1:- Construí casa, martelo
Criança 2:- Céu, flor.
Criança 3:- Uma banheira e uma flor
Criança 8:- Só uma boneca.(Registro diário de campo)
Segundo Vigotsky (2003, p. 129) “[...] ela inclui também ações reais e objetos reais.” A criança, enquanto cria, mantém conexão com dados da realidade e cria uma âncora entre o imaginário e o real, pois, pela imaginação, a criança é capaz de transformar, de recriar, e de re-significar a partir do que vive na realidade. . Isto nos permite refletir que a criança durante seus processos imaginários consegue se manter conectada com a realidade.Sendo assim, a re-significação do material consiste em realizar muito com pouco, transformar o inanimado em vida e viajar no universo das ideias, e é isto que as crianças fazem quando lhes entregamos materiais coloridos e diversificados com intenção clara de modificação e criação.
Construções livres utilizando mais de um material:
 Com a utilização, ao mesmo tempo, de diversos materiais (caixas, latas, bolas, garrafas pets, tampinhas, arcos e cordas), criei situações de construções onde as crianças possuíam grande variedade de material, seja em tamanho, forma, cor e peso.  Esses momentos exigiram das crianças decisões sobre o que construir e quais materiais seriam utilizados para suas construções. Elas construíam castelos, casas, carros, carroças, etc. Algumas crianças optavam apenas por utilizar determinados materiais como as tampinhas e latas, outras decidiam utilizar todos os materiais, ou escolhiam por cores e tamanhos, fazendo com que suas construções apresentassem detalhes impressionantes.
Para Scaglia (2004, p.6)
A importância de se conceber e construir brinquedos encontra-se na possibilidade de se produzir imagens que possuam um significado em relação à lógica do desejo da criança, pois o brinquedo começa a partir de uma vontade espontânea, depois passa para a escolha de material, a entrega total à construção, ultrapassando os problemas gerados pelos acasos, através de soluções possíveis frente às reais e potenciais capacidades, até se consumar na ação do brincar. [4]
As crianças, ao serem questionadas pelos adultos sobre suas produções, revelavam não somente o que produziram, mas, o significado de suas construções.

Construções a partir de historias infantis
Nas ações pedagógicas utilizamos, como um dos temas, as histórias infantis.  Entendemos as histórias como uma possibilidade de estimulo à imaginação. Nas nossas aulas, as crianças não apenas eram ouvintes, mas criavam jogos de representação[5], permitindo que criassem suas próprias imagens e expressassem suas imagens corporalmente.
 As expressões verbais das crianças, durante as brincadeiras em que utilizavam as histórias infantis, eram  construídas por elementos  que, aos nossos olhos (adultos), eram invisíveis, e que permeava, então, o devaneio e a liberdade de criar   elementos mágicos.  Nesses momentos, nos quais as crianças vivenciavam suas fantasias e sonhos, elas podiam ser muito mais do que o são na realidade, ou que ainda não são durante as brincadeiras. Nelas, impulsionadas pelo desejo de se apropriarem das coisas do mundo, o imaginário possibilitou às crianças a modificação da realidade, ampliando e construindo sequenciais de enredos permeados de significados infantis.  Nos seus jogos simbólicos, a ficção e o inusitado estavam sempre presentes, criando, então, uma metamorfose constante durante suas brincadeiras, seja na criação de personagens, de enredos, e construções de cenários.
Quando as crianças brincam com as histórias, sua imaginação desfaz a percepção, e os objetos, as pessoas, e os lugares nada têm a ver com seu sentido percebido, mas remetem a outros sentidos, cria sentidos inexistentes ou presentificam o ausente. Como durante essas aulas, em que uma caixa transforma-se em castelo imaginário, as tampinhas de garrafas em  mar, uma bola em um sol, um tecido preso às costas em uma capa. 
A imaginação significa, por um lado, que ela é capaz de re-elaborar o que está presente, por exemplo: a caixa deixa de estar presente para o castelo torna-se presente.  De outro  lado, é criar também, inteiramente, o inexistente, como a aventura  de brincar nos mares,embora isso seja feito a partir de outras coisas  existentes. É por isso que a imaginação tem capacidade prospectiva, isto é, consegue inventar o futuro, porque ela favorece combinações e criações.
Brincar com as histórias possibilitou às crianças a ampliação de seus repertórios de imagens, que, organizadas, puderam dar origem a outras, ampliando ainda mais o universo de referências. As histórias foram um recurso que permitiu uma maior autonomia na formação das próprias imagens, imagens essas que podemos chamar de subjetivas, por ser produção individual do sujeito, no plano do pensamento e não da realidade física. 

Construções a partir de historias criadas pelas crianças.
Para elaborar aulas em que o tema pudesse instigar os devaneios, como descreve Bachelard (1994), recorremos a ações em que as crianças criavam suas próprias histórias.  Segundo Bachelard, (1994, p.81) é a abstração que orienta a criação e a invenção: “[...] as sínteses me encantam. Fazem-me pensar e sonhar ao mesmo tempo. É a totalidade de pensamento e de imagem. Abrem o pensamento pela imagem, estabilizam a imagem pelo pensamento.”[6]
Os devaneios, segundo Bachelard, foram os primeiros responsáveis por nossa liberdade na infância. Os sonhos  permitem que nos  transformemos em seres livres, pois através deles podemos liberar as faculdades propulsoras do imaginário.
Em várias aulas das Oficinas do Jogo, trabalhamos com as histórias inventadas pelas crianças. Utilizamos a produção textual durante essas aulas, nas quais as crianças inventavam e elaboravam situações fantásticas. Foram momentos em que fechavam os olhos e procuravam imagens que pudessem compor o enredo da história que iriam em seguida protagonizar, em um jogo de “verdades e mentiras”[7].

Construções a partir de ilustrações

Criamos aulas utilizando uma ilustração que retratava uma festa  popular. Instiguei as crianças a observarem aquela ilustração para que ela pudesse se tornar base do nosso trabalho. Inicialmente conversamos sobre o que viam. Nesse momento, algumas crianças nos falavam que escutavam a ”música” e sentiam cheiro de “comida”. Produzimos um texto com as crianças sobre a ilustração:
Uma Festa

Tem brinquedos, carros, pula-pula, balão, cama elástica. Tem música, tem letras, é uma festa de aniversário para todas as crianças. A mesa é grande, tem copo, prato, a moça está perto da mesa. As crianças estão brincando de cama elástica, são muitos pratos.
 Vovozinha está sentada na cadeira de rodas porque caiu da escada e machucou a perna. O moço está dando presente para o menino que está de aniversário. As crianças pulando no pula-pula. Os meninos estão brincando no carro. As crianças brincando de rebeldes. Meninos brincando de carrinho, pula-pula e dançando Barney.
 Tem pessoas fazendo sanduíche para os outros comerem. O moço está pendurando um balão com brinquedo dentro. A menina está levando um bolo de laranja. No pula-pula os meninos estão pulando. A menina está na moto cor –de- rosa. A menina está  dando a chupeta para  o bebê para ela não chorar.As letras formaram “Feliz Aniversário”. As pessoas estão felizes porque estão se divertindo na festa.
A partir da produção textual, criamos, então, uma brincadeira de construir o cenário da festa. Na primeira aula utilizamos somente as tampinhas. As crianças criavam situações inusitadas. Em um desses momentos anotamos no diário de campo:
Falei :- Vamos fechar os olhos e tentar ver o que está dentro de nós , para construirmos com as tampinhas aquilo que imaginamos.
As crianças fizeram silêncio e fecharam seus olhos. Então perguntei: - O que viram ?
Criança 1: - Eu vi as tampinhas falando.
Geisa:- Falando o quê?
Criança 1:- Que ela ta numa festa de aniversário.
Criança 2:- Ah, eu tô vendo barco e carro.
Criança 3 :- Vi escuro e vi tampinha e ela agora é jogo de brinca.
Criança 4 :- A tampinha tem perna e passeia na festa.
A atividade foi iniciada e as crianças se organizaram em pares, sozinhas e algumas formaram pequenos grupos de 3 e 4 crianças.
No início as crianças  que estavam em grupo conversavam entre si, para poder decidir o que iriam fazer, outras buscavam as tampinhas e as encaixavam dentro dos arcos dando formas indefinidas aos desenhos. Fiquei observando e não interferi neste momento.
 Aproximei-me de alguns pares e perguntei: - E aí, que estão fazendo?
 Eles responderam:
Criança 1:- A gente tà fazendo uma cama elástica e essas tampinhas são crianças que estão pulando.
Na segunda aula, em que utilizamos novamente a ilustração como base, usamos todos os materiais das Oficinas do Jogo ( Jogos de construção). Nessa aula, o desafio seria criar nossa “própria festa”. As crianças organizavam-se para decidir o que seria construído e de que forma iriam utilizar o espaço destinado para as construções. Os adultos mediaram todo o processo, mas as crianças formavam seus próprios grupos, deslocavam-se e faziam suas conexões, inventavam, imitavam, produziam situações diversas e criavam seus jogos simbólicos.
Durante essas aulas, criamos procedimentos em que o faz-de-conta  caracterizava as  brincadeiras infantis, em que as crianças interpretavam e inventavam realidades a partir do movimento da imaginação, onde caracterizavam personagens, modificavam o ambiente, arquitetavam situações e cenários que pudessem dar vida às suas brincadeiras. Traziam elementos de seu cotidiano para experimentação e criavam um canal entre elas e o mundo que as cerca.
Para Freire (2002, p.119)
O jogo é uma coisa nova feita de coisas velhas. Quem vai ao jogo leva, para jogar, as coisas que já possui que pertencem ao seu campo de conhecimento, que foram aprendidas anteriormente em procedimentos de adaptação, de suprimento de necessidades objetivas. Os ingredientes do jogo, portanto, são as coisas velhas fechadas pela objetividade que marcou sua aprendizagem.
Nas brincadeiras, as crianças podiam ser filhinhos, mamães, papais, instrutores de um parque de diversão e outros personagens extraordinários, integrando vivências diversas misturadas com as situações do cotidiano, da natureza, das histórias infantis, incorporando-as em aventuras e eventos que extrapolavam o tempo e o espaço numa, “[...] Confrontação de imagem com representação, com formas diversas e variadas. Essas imagens traduzem a realidade que a cerca ou propõem universos imaginários” (Brougère 1995 p.40).[8]
Nos momentos das aulas, as crianças demonstravam que a todo  o momento elas se projetavam para um universo fictício, elaborando cenas em que criavam diferentes formas de expressão, inventavam problemas e soluções, estabeleciam relações, formavam elos de cooperação, de trocas e, algumas vezes, de disputa, num jogo em que a fantasia e a realidade  misturavam-se.

Construção do projeto:  Construir a fábrica de sonhos...

Nasce o projeto: Jogos de Construção.
          
Justificativa:

As diversas fases vividas pelo ser humano possuem características e finalidades próprias, sendo importante que cada uma delas sejam vividas e respeitadas na sua totalidade. Portanto a infância deve ser vivida na sua plenitude, respeitando suas especificidades, e a percebendo como sujeitos de direitos.
 Através do brincar e da sua participação à criança interage com o meio e estabelece uma ponte entre os conhecimentos universais e suas próprias idéias e hipóteses em relação ao mundo. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que as crianças aprendam mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e sobre o mundo.
Nosso trabalho tem por objetivo principal trabalhar com a dimensão imaginaria das crianças, criar conceitos matemáticos e apoiar as interações. E propor um trabalho junto as crianças utilizando materiais que promovam criações através de construções e   brincadeiras como eixo norteador desse processo de aprendizagens.
(...) ora, se o jogo é assim tão importante é certamente, porque cumpre uma função vital entre os humanos. O jogo tem a prioridade de trazer as experiências do mundo exterior para o espírito humano, de maneira que, jogando com elas, a cultura possa ser criada, revista, corrigida, ampliada, garantindo o ambiente de nossa existência(...)

                                                       (FREIRE, 2002 p. 88)
O Jogo de construção permite com que a criança materialize seus pensamentos e desenvolva processos imaginativos. Se aproprie de sua criação tendo o poder de construir e desconstruir. Ao brincar com o material terá oportunidade de manipular objetos maiores e menores, com pesos variados, cores e formas diferentes, assim como lidar com a estética e o belo.
Assim, é importante lembrar-se da importância de permitir que a criança se deleite na oportunidade de novas descobertas, de novas criações, nas quais o universo infantil esteja sendo criado e recriado constantemente e nesse contexto próprio alimente suas fantasias, competências, saberes, dizeres, sonhos e paixões.

Objetivos:
Estimular os processos imaginativos.
Despertar na criança o olhar estético.
Trabalhar conceitos matemáticos.
Promover as interações.
Trabalhar as múltiplas dimensões humanas e as diferentes linguagens de expressão.

Vivências sugeridas:
Apresentação do material.
Brincar livremente com o material.
Trabalhar com as histórias infantis (Três porquinhos, Cabra-cabrez, Bruxa Salomé etc.)
Sugerir a construção de sua própria casa.
Sugerir a construção da creche.
Sugerir a construção de passeios.
Brincar com as brincadeiras populares.

Metodologia:
O material será explorado de diversas formas, com construções por cores, formas e tamanhos.
A organização das crianças poderá ser individual, dupla, ou em grupo.
A professora mediará à atividade sempre com questões referentes às construções das crianças.
Serão utilizados registros escritos, fotográficos e fílmicos criando assim uma documentação pedagógica.


Avaliação: será realizada através da documentação pedagógica ( diário de campo com imagens)

Alguns registros desses momentos:

A ação pedagógica : 02 de abril
  Tema: Explorar o material “caixas”( jogos de construção)
 Objetivos: Construir conforme as cores.
                   Promover a organização de grupo.

O início do dia de hoje foi bastante rico, pois novamente estava em um espaço onde me reconheço, sinto uma sensação de pertencimento muito forte a este lugar e ao papel que ocupo diante dessas crianças.
Fizemos uma roda onde conversamos sobre o projeto, sobre a utilização do material, sobre a forma de brincar. Sugeri que podíamos construir livremente com este material, como se ele fosse um lego gigante, onde os nossos pensamentos poderiam se materializar.
A sala começou a de repente a ficar colorida, pedi a colaboração das crianças para organizarmos o material no centro de nossa roda. A empolgação infantil, e a euforia de muitos tomaram conta deste momento. O inesperado, o diferente, os leva a explorar o material de diversas formas. Neste momento sentimos a necessidade de dividi-los em grupos, então comecei a separar o material por cores. Algumas crianças não reconhecem as cores, então enfatizamos e repetíamos que os lados estavam determinados por esta ou outra cor. As crianças separaram-se pela escolha das cores, algumas preferiram o vermelho, outro amarelo e assim foi.
Perguntei o que poderiam construir, muitos falavam em castelos, mas percebemos que ao final todas fizeram prédios, e repetiam exatamente o que o primeiro grupo relatou.
Avaliamos como positiva o primeiro contato, mas durante a brincadeira necessitou de intervenção constante dos profissionais, a empolgação que o material proporciona, a euforia e até mesmo o descontrole em alguns momentos  mostrou ser positivo , pois as descobertas muitas vezes criam um certo  deslumbramento por parte das crianças.
O trabalho coletivo também revelou um lado de trocas com todas as adversidades, brigas, colaboração, a presença de lideres na construção e até mesmo o desinteresse por parte de algumas crianças.
O trabalho teve um desvio no planejamento elaborado previamente, pois ao sugerir de unirmos o material e construirmos algo junto, uma criança falou: - Vamos construir a casa da Cabra –Cabrêz? E começou uma grande movimentação por parte das crianças, não falavam, apenas empilhavam. Comecei a perguntar onde seria a porta, janela, como era a Cabra -Cabrêz,  que a casa teria que ser muito forte, pois ele adorava derrubar portas.
A história foi bastante longa, imitava a Cabra-Cabrêz e a adrenalina das crianças crescia a cada vez que o personagem aparecia. “-A casa é colorida, bonita e forte, protege crianças que tem medo do cabra,” assim uma criança falou. A brincadeira durou aproximadamente uma hora, as crianças construíam de forma à aprimorar o esconderijo, algumas colocavam as caixas perto de mesas e perto das prateleiras, escondendo-se e criando um ambiente de fantasias. Pareceu-me que o material ficou preso a esta história. A produção textual das crianças:
O Cabra-cabrêz
A mamãe disse para o filho não abrir a porta para ninguém. O filho abriu a porta e foi na rua brincar. O Cabra- cabrêz entrou na casa. Quando o menino voltou o Cabra- cabrêz não deixou ela entrar. O menino chamou o gato para ajudar, o gato não conseguiu porque o Cabra- cabrês gritou: - Eu sou o Cabra- cabrêz se eu te pego te parto em três.
O gato fugiu e o menino chamou o cachorro. O cachorro fugiu e o menino chamou o cachorro. O cachorro fugiu e o menino chamou o coelho. O coelho fugiu e o menino chamou o urso. O urso fugiu e o menino chorou.
Daí veio a formiga e disse que iria ajudar o menino. Aí o Cabra- Cabrêz  falou:
-Eu sou o Cabra-Cabrêz eu te pego e te parto em três.
A formiguinha falou:
- Eu entro no teu umbigo e te como inteirinho.
O Cabra- Cabrêz  ficou com medo e fugiu.
 O objetivo era explorar o material por isso trabalhei apenas com as caixas, conversei com a professora sobre as primeiras impressões, ela relatou que o material é poderoso pelo tamanho, pelas cores e pela possibilidade de mudar o seu objetivo inicial. As crianças deram um significado unindo a construção a uma história contada na sala. Materializando de alguma forma aquilo que elas imaginaram da história.
 Para Freire, (2002,p.119)
O jogo é uma coisa nova feita de coisas velhas. Quem vai ao jogo, leva, para jogar, as coisas que já possui que pertencem ao seu campo de conhecimento, que foram aprendidas anteriormente em procedimentos de adaptação, de suprimento de necessidades objetivas. Os ingredientes do jogo, portanto, são as coisas velhas fechadas pela objetividade que marcou sua aprendizagem.



Próximos  Passos:
Planejamos para a próxima aula continuar  a exploração do material deixando que as crianças brinquem livremente, mas colocarei um elemento novo, no caso: as tampinhas.





















A ação pedagógica
Dia: 4 de abril de
Tema: Construir com tampinhas

Organizamo-nos na roda para conversamos sobre a proposta do dia. Algumas crianças mostravam-se curiosas para saber o que havia no saco escuro. Então falei do material e reforcei a importância de cuidarmos, e da responsabilidade de guardar após o término da atividade.
Mostrei de que forma poderíamos brincar. Então coloquei as tampinhas no centro da roda, as crianças dividiram as tampinhas entre elas de uma forma bastante tranqüila, as construções as fizeram se concentrar de uma maneira impressionante. Observamos que com as caixas as crianças tinham muita pressa em construir, diferentemente das tampinhas, que procuravam desenhar no chão de forma detalhada.
Percebemos que no inicio todas as produções eram parecidas (casa, foi o exemplo que dei no inicio da aula), mas aos poucos as crianças foram realizando diferentes figuras, muitas delas somente elas nos poderiam explicar como: o mar, as pedras no caminho, céu,  martelo.
R. (professora regente) informalmente conversava com as crianças e perguntava sobre as produções, nesta aula ela anotou as vozes das crianças.


Recolha das vozes:
T.: Construiu casa, martelo.
P.: Pedras, e um peixe cheio de dente.
K.: Céu, flor.
M.: Uma banheira e uma flor.
E.: O sol, flor, qualquer coisa que não é feia.
A.: Tó fazendo depois eu mostro.
A.: È um circo, este é o caminho, aqui mora o palhaço e aqui as pessoas sentam.
M. : Só uma boneca.
A.: Uma casa.
C.: Não é assim, tem que coloca tudo assim bem de lado, Lê?
S.: Eu também tó fazendo uma flor e aqui tem um sol , uma nuvem è que flor não vive sem  sol e nuvem.
M.:- É uma piscina, e aqui é um ônibus ele enche de gente.
L.:- Nada só coloquei aqui.
R.:- O mar a onda, a muita coisa.
G.: -Skate, casa, flor.
A.:- Agora eu to fazendo grama ( observamos que todas as tampinhas eram verdes)
A.: - É uma borboleta.
L.: - Olha o que eu fiz uma baciona.
B.:- Não sabe o que fez.
L.:- Vou fazer um joguinho.
D.: -Fez um carro mudando a posição das tampinhas( rodas não estavam deitadas e sim em pé)
M.:- Barco, flor ( Messias ainda não se adaptou a creche chorou no inicio e precisoi de atenção para sua construção)
N.:- Tapete, coelho, casa.
E.: - Há, fiz um monte de coisa.
M.: - Casa com janela e porta, carrinho de bebê, coelho.

L., C. e R.: criaram um joguinho da memória (ficamos observando, construíram regras do jogo, e cada uma escolhia uma cor no qual precisavam pegar na próxima rodada a mesma cor)
Observamos que o trabalho começou de forma individual, mas aos poucos as crianças iniciaram suas “conexões”. D. e M., E. e A., G. e L.. As crianças conversavam muito entre si e trocavam informações  sobre suas produções.
No final guardamos as tampinhas, fizemos a roda e conversamos sobre a aula, as crianças relembraram as criações e um deles perguntou: “- Nossas obras ficaram bonitas, né Geisa? “ ( G.)

Avaliação dos profissionais: ( professora regente e professora educação física)
Foi bastante positivo o dia de hoje descobrimos o quanto este tipo de material pode estimular a imaginação e a criatividade das crianças. A professora regente nos chamou a atenção de como as crianças se concentraram no inicio do trabalho. Como o material tão simples pode tornar-se um brinquedo interessante e estimulador. Percebemos que no inicio as crianças não sabiam bem o que fazer, e que suas criações não apresentavam muitos detalhes, mas aos poucos algumas crianças criaram diversos desenhos que destruíam e construíam. Notamos que algumas crianças não queriam falar sobre o que tinham feito, outras contaram em detalhes. Mas uma vez percebemos que o brinquedo tem o poder de transformação, de mudar o que já está feito.
 Para próximo encontro iremos brincar novamente com as tampinhas pois as crianças relataram que gostaram muito desta aula, então  sentimos  a necessidade de colocarmos alguns desafios: construir por cor  e quantidade determinada, e explorar a construção livre com cores determinadas.
Piaget (1966) salientou:
“As crianças só tem um entendimento real daquilo que elas próprias inventam, e sempre que tentamos ensinar-lhe alguma coisa muito rapidamente nós a impedimos de reinventá-la por si mesmas.”
Por concordar com Piaget, pensamos na necessidade de repetirmos as brincadeiras junto às crianças para que elas possam ter seu próprio tempo de aprendizagens. E com isso, sempre incentivar a ousadia e  a descoberta do novo.  




















Algumas fotos do trabalho realizado:
 








 





 Construir conhecimento significa sujar as mãos, saltar no meio de tudo, cair de cara no chão e ir além de si mesmo... (Léo Buscaglia)
 




[1] FREIRE, João Batista; SCAGLIA, Alcides José. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione 2003
[2] FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1989
[3]  KISHIMOTO Tizuco M. O jogo e a educação infantil. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1994.
[4] SCAGLIA, Alcides José. Investigações preliminares sobre o brinquedo. Revista modular. Vol  1.nº 3. Caraguatatuba, SP: Faculdades Integradas Módulo, 2004

[5] Brincadeira, jogo de representação, jogo simbólico, de papéis, protagonizado,  enredo são entendidos nesse trabalho  com o mesmo sentido.
[6] BACHELARD Gaston. O direito de sonhar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
[7] Expressão verbal  de uma criança durante a aula.
[8] BROUGÈRE Gilles. Jogo e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.