No dia 03 de abril de 2012, às 08h e 14min, teve início o Encontro de
Formação da Rede Municipal de Educação. Ele contou com a presença de vinte e
seis (26) professores, bem como de duas bolsistas do Núcleo de Estudos e
Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).
O Encontro foi coordenado pelo Professor Alexandre Fernandez Vaz e teve
como tema “Educação Física na Educação Infantil: Temas em debate IV – Lugares
da Educação Física na Educação Infantil (I), segundo suas próprias Diretrizes”.
Alexandre inicialmente explicou que os Encontros de Formação girarão em
torno de um foco específico, que é o conjunto de elementos que o documento das Diretrizes nos traz, além de relatos de
experiência, filmagens e outros elementos que nos permitam discutir a prática
pedagógica dos 0 a
5 anos, dando mais ênfase por vezes ao 0 a 3, já que existe pouco acúmulo sobre essa
faixa etária. Outros temas que também serão discutidos durante os encontros são
os desenvolvimento e aprendizagem, gênero e geração.
Ao falar mais especificamente sobre o tema no encontro, Alexandre fez uma
breve introdução sobre a construção das Diretrizes
para Educação Física na Educação Infantil. Na tentativa de construir um
documento de orientação para a Educação Física, partindo de práticas pedagógicas,
um conjunto de professores da Rede, reunidos no Grupo Independente, em conjunto
com outros profissionais, formulou as Diretrizes
Pedagógicas Municipais da educação Física para educação Infantil.
O documento das Diretrizes para
Educação Física ainda está em construção, dessa forma a ideia para o encontro
foi apresentá-lo de forma geral para um breve debate, visto que ele tem grandes
chances de ser adotado pela Rede como orientação. As orientações são
importantes para que os professores tenham uma referência, principalmente
aqueles que não têm nenhuma experiência de trabalho com os pequenos, tampouco
uma formação que contemple as discussões e reflexões sobre o tema.
As primeiras partes do texto tratam do histórico da Educação Infantil,
que com o tempo deixa de assumir o caráter assistencialista e passa à ordem de
educação, deixando de cuidar para educar e cuidar, este é um transito bastante
importante para a Educação Infantil. O primeiro impulso para isso é a nova
forma de organização da sociedade, em que as mães vão trabalhar fora e precisam
de algum lugar para deixar seus filhos. O educar vem complementar o cuidar na
medida em que a Educação Infantil passa a ser parte da Educação Básica.
Desde os anos 1980 a
Educação Física está presente na Educação Infantil no Município de
Florianópolis. Em sua origem, as justificativas adotadas para tal presença eram
essencialmente uma presença masculina dentro da instituição de Educação
infantil, formada exclusivamente por mulheres; o apoio às práticas psicomotoras
para melhora na alfabetização e práticas esportivas; além de ser uma forma de
ampliar o mercado de trabalho para os profissionais formados.
Pode-se dizer que Florianópolis foi uma das cidades Brasileiras que mais
cedo adotou a Educação física na Educação Infantil, isso levou a um debate
avançado sobre o tema no município, além do reconhecimento da profissão nessa
área, com concursos públicos e formações continuadas específicas.
Alexandre nos lembra que atualmente há um discussão muito importante
referente à obrigatoriedade da educação institucional a partir dos 4 anos de
idade, o que acaba por obrigar o Estado a oferecer um serviço que as crianças têm
por direito, que é a creche. Um problema que isso pode trazer é uma possível
escolarização “adiantada” das crianças.
Partindo deste histórico inicial o documento fala sobre um ordenamento
legal para a Educação Física de 0
a 5/6. Uma das leis é referente ao tempo, agora a Educação
Física Infantil não precisa de três aulas semanais de 45 minutos, mas sim de 2
horas e 15 minutos por semana, organizadas da forma que a instituição achar
mais adequada. Esta lei foi criada a partir do debate e do reconhecimento de
que as crianças não elaboram o tempo da mesma forma que os adultos. O tempo
deveria ser repensado para atender da melhor maneira possível às crianças e os
objetivos da Educação Física de 0
a 5/6, sempre considerando o contexto, as relações
sociais e os espaços dentro da instituição.
Outro ponto visto como fundamental dentro do documento é a vinculação da
Educação Física com o PPP da instituição. Isso não significa que o professor
tenha que se subordinar a professora de sala, mas sim ao PPP, que deve sempre
ser construído e decidido em conjunto, por toda a instituição.
Foram então apresentados alguns elementos como eixos norteadores a serem
considerados dentro da prática pedagógica como:
- contexto
social e cultural em que a unidade está inserida;
- a localização
geográfica da unidade;
- faixa etária e
numero de crianças;
-
disponibilidade e organização dos tempos/espaços;
- participação
das crianças na elaboração e organização das atividades;
- parceria com
as professoras e auxiliares de sala, além dos demais trabalhos da unidade, tais
como cozinheiras, auxiliares de serviços gerais, auxiliares de ensino, readaptados,
supervisoras, diretoras.
- materiais e
recursos disponíveis;
- concepção de
currículo nas diretrizes curriculares nacionais para EI: experiências, saberes,
conhecimentos;
- a experiência
e a formação cultural da criança e adultos como marcos norteadores das
propostas pedagógicas de EI, nas praticas cotidianas e dos projetos de formação
de professores;
- princípios
para elaboração de propostas pedagógicas de EI: princípios éticos, políticos e estéticos
e seus desdobramentos;
- objetivo das
propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil e a garantia às
crianças do acesso de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e
aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à
saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à
convivência e à interação com outras crianças.
Alexandre também nos alerta da importância do planejamento para que o
momento da Educação Física não se reduza ao mero casuísmo, com decisões no
instante da aula sobre o que vai fazer. O improviso é muito importante em
alguns momentos, mas só improvisamos bem quando temos um bom planejamento, algo
pensado, e não ao contrário, visto que a criação depende de formação.
Planejar pensando no processo formativo de longo prazo é de extremo
valor, visto que muitas crianças passam boa parte de sua vida em instituições
de ensino, e esse tempo deve ser bem aproveitado.
Outra questão abordada nas
Diretrizes e na formação foram os Núcleos de Ação Pedagógica
(NAPs), assim divididos: Linguagem: gestual- corporal, oral, sonoro-musical,
plástica e escrita; Natureza: manifestações, dimensões, elementos, fenômenos
físicos e naturais; e Relações sociais e culturais: contexto espacial e
temporal, identidade e origens culturais e sociais. Todos esses Núcleos devem
compor o trabalho pedagógico do professor de Educação Física, sendo trabalhados
das mais variadas formas.
Quando discutido sobre o
conjunto de conhecimentos da Educação Física que está colocado no documento
provisório das Diretrizes, Alexandre
acredita que eles estão um pouco mesclados e repetidos, devendo ser mais bem
elaborada essa parte textual. Outro questionamento feito é se os mesmos são
conteúdos ou uma orientação de trabalho.
Outra questão abordada foi
sobre o desenvolvimento de relações com a família da criança fazendo-a entender
que a instituição é diferente da casa, propiciar uma relação de confiança para
que se faça entender que na mesma existem profissionais habilitados que podem
decidir seriamente sobre o destino dos pequenos, é essencial.
Na mesma seqüência de
discussão foi levantado o assunto segurança. Uma professora falou que qualquer
pessoa pode entrar na sua instituição, pois não tem um controle rígido de
entrada nem de saída de pessoas e é um lugar público. Muitas crianças são
encaminhadas por pessoas de diferentes graus de parentescos, um dia o pai que
leva, outro o avô, irmão, não sendo possível conhecer todas as pessoas que
adentram à instituição. Mas, o que é público é de todos, mas não significa que o
acesso é para todos e a qualquer momento. É razoável que pais e mães estejam
mais presentes e com mais frequência na comunidade escolar, mas é necessário
por parte dos profissionais da instituição o controle e gerenciamento das
pessoas que lá circulam para não se colocar em rico as crianças, mesmo por que
quem está responsável pelos pequenos é o Estado e qualquer fato que aconteça
com os mesmo recai sobre essa responsabilidade.
Citando algumas atividades
listadas no documento provisório das Diretrizes,
é lembrado que a Educação Física e a Instituição como um todo também são um
lugar para a educação e experimentação dos sentidos. Pensar na variedade de
alimentos, oportunizando sabores, temperos, temperaturas diferentes, faz as
crianças descobrirem e educarem seu paladar. O mesmo deve ser feito para com os
outros sentidos, visão, audição, olfato.
Uma dúvida que foi
levantada foi a quantidade de “conteúdos” listados nas Diretrizes ressaltando que alguns profissionais de Educação Física não
dominavam todos, por exemplo, teatro. O importante de ter um apanhado grande de
experiências listadas é que orientam, fazem pensar e refletir como aquele determinado
conteúdo pode estar contido nas aulas, gerando uma grande oportunidade de
criação.