No dia 06 de novembro de 2012, às 08h e 30min, teve início o Encontro de
Formação da Rede Pública Municipal de Educação, grupo da manhã. Ele contou com
a presença de vinte e dois (22) professores, bem como de uma bolsista do Núcleo
de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq). O
Encontro foi coordenado pelo professor Alexandre Fernandez Vaz e teve como
convidado o professor Felipe Almeida vindo do Espírito Santo.
Na primeira parte foi possível contar com a presença da Doutora Senen,
dermatologista, em nome da Prefeitura de Florianópolis, explicando e tirando
dúvidas sobre a importância do uso de filtro solar. Ele é disponibilizado pelo
órgão em questão para os professores de Educação Física da Rede Municipal.
Em seguida Alexandre apresentou o professor de Educação Física Felipe
Quintão Almeida, da Universidade Federal do Espírito Santo, que compõe com Valter
Bracht o grupo que tem se dedicado ao estudo do desinvestimento
docente, no qual se refere a situação de muitos professores que param de
investir na sua carreira em algum momento da sua vida. O convidado do dia vem
falar sobre um tema correlato a este, que é sobre a Prática Pedagógica e a
Produção de Conhecimento em Educação Física Escolar. Trata-se de um tema
importante na perspectiva que todo educador deve ser alguém que pensa sua
prática, ao mesmo tempo em que esta prática deve ser pensada no ponto de vista
da pesquisa.
Felipe organizou sua fala em dois (2) momentos, sendo que
no primeiro apresentou um balanço epistemológico da produção do conhecimento em
Educação Física Escolar. Como que se organizou, sobretudo nesses últimos trinta
(30) anos, a produção de conhecimento nesta área. Lembrando que um balanço é
sempre um recorte, feito com base em alguns critérios. Depois, apresentou
quatro (4) problematizações que precisam ser observadas quando se vai fazer um
debate sobre a prática pedagógica e a formação docente em Educação Física.
Para apresentar o primeiro momento, foram utilizados como
base dois (2) textos publicados recentemente em 2011 e 2012 chamado Educação Física Escolar como tema da
produção do conhecimento superior nos periódicos da área no Brasil (1980-2010)¹, parte I e parte II, na revista Movimento. Esses dois textos são possíveis de
ser encontrados na internet e foram
resultado de uma investigação tendo como objetivo de estudo a produção do
conhecimento em Educação Física escolar utilizando nove (9) periódicos da área
tidos como importantes, são eles: Revista Brasileira de Ciências do
Esporte (RBCE), Movimento, Revista da UEM, Pensar a Prática, Motrivivência,
Motriz, Ciência e Movimento, Motus Corporis, Revista Brasileira de Educação
Física e Esporte (RBEFE). Foi analisado esse conjunto de fontes desde as
publicações de 1980 à 2010. Para a interpretação dos dados encontrados foram
escolhidos quatro (4) chaves de leitura, eixos de interpretação: quais as
principais perspectivas metodológicas, referências teóricas, problematizações e
resultados.
Felipe nos traz um fato preocupante para quem está no campo acadêmico e para
aqueles que estão atuando profissionalmente na área da Educação Física Escolar.
Ele destaca que o volume de produção nessas nove (9) revistas, em um total de
4.166 artigos, somente 647 tinham como tema a Educação Física Escolar, o que
equivale a aproximadamente 15% de toda a produção nessas três (3) décadas. Na
análise feita foi possível saber quais periódicos publicam mais textos desse
tema e a revista Motrivivência, aqui da UFSC, ficou em segundo lugar. Tendo
conhecimento desse percentual, parece-nos possível dizer que este não
corresponde à importância da Educação Física Escolar.
Depois de destacar esse primeiro aspecto, o convidado se ateve em outro, encontrado
durante a pesquisa da qual ele fez parte, resultante nos dois textos que o usa
como base para essa explanação, citados acima, que é o pluralismo teórico e
metodológico que o campo da Educação Física experimentou durante essas três
décadas. Felipe destaca esse fato como muito bom para o campo e faz uma síntese
dessa multiplicidade desses trinta (30) anos, chegando nas problematizações, no
segundo momento.
Quando se observa as publicações no período estudado pelos pesquisadores,
constata-se que nos anos 1980 fundamentalmente predominou aquilo que se pode
chamar de ensaio como forma
metodológica. Nos anos 1990 e 2000 os dados demonstram uma variedade maior,
destacando-se além dos ensaios, os relatos de experiência, estudos com base
documental e bibliográfica, pesquisas de campo, etnografias, análises
cienciométricas, pesquisa participante, pesquisa colaborativa, estudo de caso,
entre outras, todas elas tendo de algum modo interesse na Educação Física Escolar.
Esse maior equilíbrio metodológico parece acompanhar o amadurecimento teórico
da área. Essas diferentes formas de fazer pesquisa são resultado de novas
referências na área, e assim a produção do conhecimento sobre o tema cada vez
mais sofre influência desse pluralismo teórico e metodológico, de tal modo que
parece improvável que uma perspectiva prevaleça em detrimento às demais, como
já foi o caso em períodos anteriores. Também do ponto e vista político é
importante para assim haver diversos modos de como interpretar a Educação Física
Escolar, segundo Felipe.
Esse pluralismo, que é responsável pela renovação discursiva no campo da
produção do conhecimento em Educação Física Escolar, possibilitou algumas
problematizações no campo e também para a prática pedagógica do professor. Felipe
elencou quatro (4) delas: 1) A necessidade de renovar as práticas pedagógicas;
2) O retorno a didática; 3) A necessidade de considerar a “voz” dos
professores; 4) O reconhecimento da “vida” no trabalho docente.
Iniciando o comentário pelo primeiro item, o convidado diz que as
características assumidas pela atual produção do conhecimento em Educação Física
Escolar hoje apontam na direção de pragmatizar as teorias pedagógicas, repensar
a relação entre teoria e prática. Também é necessário diminuir o hiato entre a
universidade e a escola para caminhar na direção de se pensar como mudar a
prática em uma direção crítica.
Um desafio que está disposto no campo de formação dos professores é como
realizar uma prática progressista em Educação Física. O que parece estar
colocado é a necessidade de avançar no sentido de superar uma prática docente
na qual não se acredita mais que contrasta com outra que ainda tem dificuldade
de se pensar e desenvolver, como materializar o discurso crítico produzido pela
área nos últimos anos.
O segundo aspecto listado é chamado por Felipe de retorno à didática. Com
esse pluralismo teórico e metodológico, a produção do conhecimento indica que o
foco na didática é estratégico para o momento, pois possibilita articular os
diversos temas de pesquisa em direção a práticas pedagógicas concretas,
diagnosticar equívocos, méritos dos processos de ensino e aprendizagem
vigentes, apontar novas possibilidades de intervenção.
No terceiro eixo é comentado sobre considerar a voz dos professores, ou seja, o que eles tem a dizer, escutá-los.
Durante muito tempo os investigadores consideraram as narrativas dos professores
e suas vozes elementos sem muita
importância para a prática pedagógica e na formação. Reduziu-se a formação
docente a um conjunto de competências e capacidades vinculadas fundamentalmente
à prática, realçando a dimensão essencialmente técnica da ação pedagógica, seus
melhores métodos e técnicas. Como conseqüência dessa compreensão, predominou
durante muito tempo tendências escolarizadas ou academicistas nos programas de
formação dos professores. Ao confiar sua formação aos outros, a voz do docente
foi silenciada nas decisões que precisam ser tomadas rumo a práticas inováveis.
A formação assim compreendida deixa a entender que o problema de não se renovar
a prática é apenas do professor e não, em larga medida, da proposta de mudança.
Sabemos que o professor é fundamental para a mudança e para repensar a
prática. Ele deve se reconhecer como autor da sua prática, autônomo, alguém que
reelabora, repensa. O reconhecimento da voz
do professor contribui para entender como os docentes assimilam e reinterpretam
novas idéias e conteúdos, mas também implementam novas estratégias. Isso
aponta, portanto, para a necessidade de se ouvir mais os agentes que estão na
escola e saber que prestar atenção no que eles têm a dizer implica em uma necessária
humildade epistemológica.
Por fim Felipe encerra comentando sobre o ultimo item. Os estudos
demonstram que a vida é um elemento
importante para se pensar o modo do professor atuar. Nossos processos
formativos acontecem em tempos e lugares diferenciados, tendo a memória um
trabalho privilegiado em reconstruí-los. Por que é importante considerar o
ciclo de vida? Alguns autores defendem que o valor formativo de uma ação
formativa parece mais ligado à dinâmica interna e à história de vida dos
professores do que à clareza das intenções do formador ou à qualidade de sua
intervenção.
As decisões relativas à escolha da profissão, direção que é dada à
carreira, desinvestimento no ensino, experiências inovadoras, abandono da
docência, momentos pelo qual o professor passa pela sua carreira, poderiam ser
estudados e compreendidas se além dos aspectos profissionais prestássemos
atenção à pessoa que é o docente e sua à vida dele.
Após essa conversa, Felipe abriu espaço para perguntas e esclarecimentos.
Professora Adriana se pronunciou agradecendo ao professor Alexandre por trazer
o convidado para este encontro e em específico ao Felipe por coroar o trabalho
que os professores do Grupo vêm tentando desenvolver na Formação da Rede
Municipal e por trabalhar com dados concretos, como foi exposto em sua fala. Houve
mais comentários por parte dos professores.
Por fim foi agradecido ao professor Alexandre Vaz por sempre estar
presente dando o suporte necessário a essa caminhada dos docentes em busca de
conhecimento, reflexões, avanços referente à área, e também à Prefeitura
Municipal de Florianópolis.
1 - Link para os textos citados:
http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/19280