Para este encontro estava previsto a leitura do texto “Notas Conceituais Sobre Mímesis e Educação do Corpo em Max Horkheimer e Theodor W. Adorno” dando continuidade e aprofundando a reflexão sobre um tema que o grupo considera ter destacado papel nas aulas de Educação Física, a relação da técnica com a mímesis.
No encontro anterior, onde foi realizada uma oficina, ministrada pela professora Michele e que contou com participação expressiva dos professores que compõem o grupo, o conteúdo Ginástica foi a pauta. A aprendizagem técnica de alguns movimentos e a sua ligação com a ludicidade marcaram a oficina.
A Ginástica, um conteúdo clássico da Educação Física, é também um elemento da cultura universal, ou seja, é parte constituinte do processo de humanização, e que se expressa exatamente pelo aprendizado de algumas técnicas corporais que nos proporcionam realizar os movimentos desejados.
Este domínio técnico é de certa forma uma instrumentalização do corpo, ou seja, o corpo se torna instrumento para a realização de algo. Pensando sobre este questão na infância, o corpo é o primeiro brinquedo, o primeiro objeto lúdico da criança, então, a criança o utiliza, o torna um objeto para brincar, mesmo que caracterizado neste momento pela espontaneidade.
Concebendo a técnica por este viéis, acreditamos que o conhecimento também passa pelo corpo, como outra dimensão do conhecimento, porém não menos valiosa. Praticamos e pensamos que através da vivência de alguns movimentos técnicos, as crianças experimentem sensações interessantes e a partir deste aparato técnico, recriem e ressignifiquem os mesmos. Não acreditamos que este aprendizado deve ser pautado pela repetição demasiada, desvinculada do contexto, onde a execução biomecanicamente perfeita do movimento é o objetivo final.
A partir da oficina, surge uma questão interessante e que mereceu nossa atenção durante este encontro, que seria identificar se os movimentos presentes na Ginástica são próprios das crianças ou foram produzidos e sistematizados pela cultura. Como todos nós nascemos dentro de um contexto cultural, com linguagem e conjunto simbólico específicos, seria difícil pensar em movimentos das crianças, já que sua comunicação e inserção no mundo são mediadas pela cultura.
Como a forma com que as crianças se relacionam com o mundo é mimética, sendo a mímesis a capacidade de reconhecer e produzir semelhanças, elas fazem uma representação deste contato com a cultura, por isso as brincadeiras infantis são importantes, elas vivenciam a representação de diferentes papéis através da mímesis.
Característica marcante da mímesis é a espontaneidade, algo que não foi pensado, não tem uma relação estreita com a cognição. O exemplo citado no encontro para retratar esta situação é quando crianças adotadas se parecem com os pais adotivos. Essas crianças se apropriam dos movimentos, gestos, fala, através do contato afetivo. Essa relação afetiva com o objeto expressada pela mímesis faz parte de uma dimensão não-conceitual do conhecimento.
Por outro lado, as práticas miméticas também estão relacionadas com a elaboração conceitual, na infância podemos perceber quando uma criança utiliza uma palavra que ainda não conhece o significado, mas de tanto ver sua mãe falando, a criança percebe a situação em que foi usada e utiliza da mesma maneira, de certa forma isto é produzir um conceito para algo.
Finalizando o encontro, debatemos rapidamente sobre a face sinistra da mímesis, expressada não mais pela identificação e sim pelo medo. Na aproximação por este lado, o indivíduo deixa de ser sujeito para aderir imediatamente. Nesta relação, a adesão mimética é ausência de desejo, que foi massacrado pela relação de força e poder estabelecida.
Fizemos um diálogo da questão do medo, presente na literatura, com a realidade concreta nas instituições. As crianças quando são alvos de relações de poder (muitas vezes necessárias), já que os adultos são figuras identitárias importantes, tendem a se diluir no ambiente, ou seja, a reação é tentar se esconder, se camuflar, sumir, o que não raro também acontece com nós adultos.
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