Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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domingo, 9 de outubro de 2011

Relatório do dia 04/10/2011 - Formação da Rede Municipal de Educação de Florianópolis

No dia 04 de outubro de 2011, às 08h e 20min, teve início o Encontro de Formação Continuada da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. O encontro contou com a presença de 13 professores, bem como de duas bolsistas do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq).
O encontro foi coordenado por Alexandre Fernandez Vaz e teve como tema: Temas transversais em Educação Física (EF) e infância: gênero, inclusão, pluralidades. Alexandre iniciou o encontro retomando o anterior, que tinha como tema Registro e sua importância na EF para Educação Infantil. Ele perguntou o que havia sido pensado e discutido, então os professores reafirmaram a importância do registro, de fazer as perguntas certas e anotar informações pertinentes, que quando lidas darão um retorno, alguma direção. Foi destacado também que fazer um bom registro é aprendido a partir da experiência e prática.
Alexandre afirmou que em um bom registro é necessário haver mais substantivos do que adjetivos. Dizer por exemplo que uma aula foi boa, nos traz pouca informação sobre o que aconteceu nela, afinal, o que seria uma aula boa? Os professores lembraram que um ponto que gerou muita discussão foi sobre como lidar com as crianças em determinadas situações de tensão, e como é forte a interferência da professora de sala nas aulas de EF.
Iniciando com o tema do encontro, Alexandre falou sobre como é complexo o tema da inclusão dentro do universo da EF, ainda mais quando se trata da Educação Infantil. Segundo ele o tema não é mencionado nas principais obras sobre pedagogia em educação física, como por exemplo, no livro “Metodologia do ensino da EF”, escrito por um Coletivo de autores, na obras de Elenor Kunz ou nos textos sobre as aulas abertas às experiência de ensino. (Dissertação Gisele Carreirão Gonçalves)
Um tema que caminha junto ao da inclusão é o referente às pluralidades, já que ocorre muito freqüentemente dentro das instituições de educação uma generalização do sujeito e uma particularização do conteúdo, com sugere Ricardo Crisorio. ("Constructivismo, cuerpo y lenguaje" de Ricardo Luis Crisorio; "Educación Física y Biopolítica" de Ricardo Crisorio) . É importante haver uma diferenciação entre universalização da educação e generalização dos sujeitos, todos têm, sim, os mesmos direitos, porém ninguém é igual. É muito comum na EF a visão de que se tem que atender a todos a todo o momento, gerando uma particularização do conteúdo, ficando estes apenas para alguns, já que as pessoas não aprendem da mesma forma, tampouco no mesmo tempo.
Outro tema discutido foi o do envelhecimento. O corpo é muito mais do que organismo, já que nos é possível generalizar o organismo, visto que todos funcionam aproximadamente da mesma forma. A mesma generalização não poderia ser feita com relação ao corpo, pois ele é simbólico “é um agente da cultura”. Foi proposto pensar sobre o envelhecimento na visão das crianças, para isto foram trazidas algumas imagens e falas dos pequenos presentes na pesquisa O corpo bagulho: ser velho na perspectiva das crianças, de Anne Carolina Ramos. Nesta pesquisa as crianças mostram o que ser idoso representa para elas, em sua visão, ser velho é viver com limitações, é depender dos outros, é ser menos. Alexandre atenta que as crianças aprendem que os velhos “não servem ou não podem”, mais nada, por meio dos adultos. Um fato que chama a atenção na leitura da pesquisa foi que, nenhuma criança, em sua fala, considerou as vantagens de ser idoso, como a experiência, a calma, o acúmulo de conhecimento entre tantas outras. A velhice é sempre associada à idéia de fraqueza, de perda.
Voltando ao tema “deficiência”, Alexandre apresentou, muito brevemente os Núcleos de Ação Pedagógica, que serão mais bem rediscutidos no próximo encontro, e com eles fez as perguntas: “O que as crianças consideradas deficientes ganham com estes núcleos? Como os professores lidam com alunos com algum tipo de deficiência?”
Algumas falas:
Professora: “é muito difícil lidar com isso, não sei se a criança quer estar ali, se quer ser incluída. Outro ponto é a dificuldade, por vezes, de aceitação partindo das demais.”
Professora: “meu contato é cauteloso, utilizo muito o olhar da professora de sala. Em alguns casos tenho que cuidar com o volume do som, com o barulho das crianças e às vezes vejo a necessidade de dar umas voltas com a criança para ela se acalmar devido à determinada deficiência dela. É difícil encontrar o tom com estas crianças, procuro ir lendo-as.”
Professora: “Não faço atividades separadas para elas, tenho sempre um diálogo com os demais alunos.”
Alexandre destacou um ponto sobre a ausência das crianças com deficiência das aulas de EF, segundo ele, quando a criança vai pouco à aula de EF ela está sendo privada de um saber. É importante saber qual o lugar que a EF ocupa e qual sua importância. Alexandre alertou para termos consciência de que a criança não tem que se adaptar ao grupo, fazendo tudo com e como os outros, todos são diferentes, então por que não lhes é permitido que façam coisas diferentes? (Itinerários da inclusão de pessoas com histórico de deficiência: um estudo sobre uma menina surda em aulas regulares de Educação Física, de Gisele Carreirão Gonçalves, Alexandre Fernandez Vaz e Luciano Lazzaris Fernandes)
Uma professora comentou que às vezes parece que a instituição fica como que refém da família, que não busca um diagnóstico e um tratamento médico adequado para a criança, pois essas informações seria de grande ajuda para os professores. Surge então a questão da diferenciação entre diagnosticar e estigmatizar. Alexandre lembra que o diagnóstico por si só não é um problema, mas sim o que as pessoas irão fazer com ele. Continua sua fala dizendo que os professores por vezes acabam mais adaptando do que incluindo, lembra que incluir não significa colocar a criança nas atividades que já se faz, mas, sim, no processo de educação formal.
O último tema discutido foi o de gênero. Alexandre iniciou perguntando o que era gênero e então um professor respondeu que era a condição histórico-social do sexo. Alexandre lembra a todos que a questão masculino e feminino são papéis construídos e que é função da escola desconstruir estereótipos e preconceitos relacionados a eles e não reproduzi-los. Ele destaca ainda que essas são questões que devem ser enfrentadas, porém afirma que esta é uma tarefa bastante complexa. ("A construção de identidades e papéis de gênero na infância: articulando temas para pensar o trabalho oedagógico da educação Física na Educação Infantil" de Debora Thomé Sayão).
O encontro é encerrado com Alexandre afirmando que ainda temos muito o que avançar com relação a todos estes temas, porém já é um grande avanço perdermos falar abertamente sobre estes assuntos e fazer uma auto-crítica de nosso trabalho.

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