No dia 04 de novembro de 2014, às
08:00 horas, teve início o último encontro do ano de 2014 da Formação
Continuada dos Professores de Educação Física da Educação Infantil da Rede
Municipal de Florianópolis.
O encontro contou com a presença
de aproximadamente trinta (30) professores, bem como de dois bolsistas da UFSC.
O encontro foi ministrado pelo professor Jaison José Bassani, com a temática da
Relação Espaço-Tempo, a qual foi definida no levantamento realizado no primeiro
encontro da formação que ocorreu no inicio deste ano, dia 15 de abril de 2014.
O
professor Jaison iniciou o encontro questionando o motivo pelo qual essa
temática foi apresentada como conteúdo a ser abordado nesta formação. E alguns
professores relataram que foi devido à dificuldade que alguns enfrentam no
cotidiano dos seus trabalhos pedagógicos devido à falta de tempo ou espaço
adequado para realizar suas mediações.
A
partir desses relatos o professor Jaison relembrou o que foi desenvolvido nos
encontros anteriores, isto é o desenvolvimento pensado como meio da
aprendizagem, ocorrendo durante o processo da aprendizagem e não como pré ou
pós-aprendizagem, sendo o individual e biológico, decorrente ao longo da sua
maturação, exógena, cultural e social. Relacionando a aprendizagem e o
desenvolvimento com as brincadeiras, brinquedos, conteúdos culturais e as
interações.
O professor destacou que o Espaço
e o Tempo são vetores fundamentais para o planejamento do professor. Que a
organização do tempo das aulas de Educação Física (EF) na Rede municipal de
Florianópolis podem ser feitas no âmbito institucional, assim possibilitando a
organização específica para cada unidade de Educação Infantil.
A
partir dessa introdução foi apresentado um material didático no data show, como ferramenta pra tratar essa
temática. O material foi elaborado por ele Jaison Bassani e pelos professores
Alexandre Vaz e Ana Cristina Richter, titulado como “Espaço e tempo na educação infantil:
Brincadeira, brinquedo, conteúdos
culturais, interações”.
O material iniciou apresentando
um fragmento dos Parâmetros Nacionais
de Infra-Estrutura para as Instituições de Educação Infantil, o qual segue abaixo na integra:
[...]
construir o ambiente físico destinado à Educação Infantil, promotor de
aventuras, descobertas, criatividade, desafios, aprendizagem e que facilite a
interação [...]. O espaço lúdico infantil deve ser dinâmico, vivo, “brincável”,
explorável, transformável e acessível para todos. [...] Acredita-se [...] que o
professor tem papel importante como organizador dos espaços onde ocorre
o processo educacional. Tal trabalho baseia-se na escuta, no diálogo e na
observação das necessidades e dos interesses expressos pelas
crianças, transformando-se em objetivos pedagógicos” (BRASIL, 2006,
p.10).
O
documento trata sobre a construção de instituições, de como elas devem ser
organizadas, planejadas, porém na realidade, muitas instituições não seguem
essas orientações, seja por que foram construídas anteriormente a esse
parâmetro, ou por que foram elaboradas em espaços reaproveitados, com
arquiteturas já pré-estabelecidas.
Outro
levantamento feito pelo professor Jaison foi o de relembrar qual o papel social
de Instituição de Educação Infantil? Assistencial e educacional, preparando para a
inserção na Educação Básica, afirma o professor Jaison. A qual entra em
conflito com a organização do Ensino da Educação Básica do Fundamental e Médio.
Devido pincipalmente as 03 (três) principais diferenças:
- Organização Temporal
- Organização Espacial
- Relação com o Conhecimento
Quanto a organização temporal,
esta não está organizada por hora aula, sim por momentos, sendo: entrada,
alimentação, higiene, sono, atividade orientada, Educação Física, alimentação,
parque e saída.
Na ausência do espaço específico
para a Educação Física, geralmente a quadra poliesportiva, fica claro que na
maioria das instituições de educação infantil não há espaços com condições
ideais para o trabalho nesta etapa do ensino, o qual pode tornar o trabalho
pedagógico dos professores limitado.
Outros espaços diferentes nas
instituições de Educação Infantil comparado com as escolas são as salas de
aula, as quais são organizadas de forma temática, com cada canto abordando um
tema. Além de todas praticamente possuírem banheiros anexados a mesmas.
O refeitório também é outro
espaço modificado, ele é o espaço central destas unidades, sendo realizadas as
alimentações, atividades pedagógicas, reuniões. Além da participação das
cozinheiras e das merendeiras no cuidado e educação das crianças, as quais
possuem autoridade relacionada com o momento da alimentação, pois são elas as
responsáveis por essa etapa tão importante das crianças nas instituições, as
quais podem interromper o trabalho pedagógico para o momento da alimentação,
quando a mesma está pronta.
A relação com o conhecimento não se dá
por disciplinas, mas sim por Núcleos de Ação
Pedagógica (NAPs), assim divididos: Linguagem:
gestual- corporal, oral, sonoro-musical, plástica e escrita; Natureza:
manifestações, dimensões, elementos, fenômenos físicos e naturais; e Relações
sociais e culturais: contexto espacial e temporal, identidade e origens
culturais e sociais. Todos esses Núcleos devem compor o trabalho pedagógico do
professor de Educação Física, sendo trabalhados das mais variadas formas.
Conceituação de
Espaço
Diferenciação entre as dimensões
que os espaços podem ter mediante os seus aspectos físicos e representativos,
sendo elas:
•
Dimensão material (física):
Medida,
tamanho, comprimento, objetos...
•
Dimensão
simbólica (representação):
Interpretação
diferente, imaginário, criável...
Revisando e
representando
1. Elementos
culturais (sociedade) presentes na brincadeira da criança (indivíduo)
• Mercadorias da Indústria Cultural;
• Condições socioeconômicas;
• Situações de desprazer e de prazer;
• Regras, valores morais, modos de relação com o
outro;
• Narrativas de terceiros;
• Partículas da história;
• Palavras;
• Expressões faciais e gestos;
• Afetos;
• Objetos disponibilizados pelos adultos
(impulsos e motivos);
-
(Reconstruções de) Acontecimentos do passado;
-
Desejos irrealizáveis;
-
Objetos culturais e formas culturais (de
comunicação, de interação, de expressão);
Experiência vivida e
Experiência narrada
Ver / Ouvir / Cheirar /
Saborear / Sentir
Observar /
Tocar / Manipular Movimentar /
Agir
As experiências sensoriais
prévias com os objetos culturais e com os outros se configuram
como ponto de apoio e condição de existência da
brincadeira. As experiências vividas são as bases para as brincadeiras, as
quais possibilita mobilizar essa ação de transformar a ação em memória. Maior
acervo de memória, maior possibilidade de brincadeiras.
Brincadeira
= memória em ação
PRIMEIRO
MOMENTO: (0 a 3 anos)
Função
do objeto: caráter impulsionador; impulso para a
ação/atividade/relação/contato.
Função
da palavra: orientação no espaço, distinção de lugares separados no espaço;
a palavra, inicialmente, significa um lugar conhecido na situação; união íntima
da palavra com o objeto, do significado com o que a criança vê.
SEGUNDO
MOMENTO: (A partir dos 3 anos)
Ação não mais desencadeada pelo objeto
- que permanece na memória enquanto imagem/palavra/representação/significado -
mas pela ideia.
A ideia separa-se do objeto, que,
incialmente precisa de um ponto de apoio em outro objeto: o objeto pivô.
Exemplo: um cabo de vassoura (não mais o
objeto específico) tornar-se um cavalo. Separação do significado “cavalo” do cavalo
real.
Nova forma de relação da criança com a
realidade: operar com significados
Emancipação
das amarras situacionais (não depende mais do objeto; pensa no objeto
ausente; lembra; imagina).
Necessidade
de:
• Ampliar o quadro de experiências com os
elementos da cultura
• Oferecer objetos culturais enquanto
impulso/motivo para ação (interesse)
• Oferecer palavras juntamente com os
objetos e seus atributos (cor, forma)
• Tematizar os produtos da Indústria Cultural
(problematizar x silenciar ou proibir?)
• Oferecer obstáculos (à satisfação
imediata dos desejos) que impulsionam à resolução de problemas e à fala
egocêntrica, à busca de caminhos indiretos e à emancipação das amarrar
situacionais (uso de objetos pivô; operação mediante significado)
• Recordar
com as crianças: palavras, objetos, brincadeiras, impressões faciais,
sentimentos, gestos, experiências vivenciadas, por meio de palavras e imagens
(objeto ausente) favorecendo a operação com significados. [memória em ação pela
linguagem]
• Apresentar
os elementos da cultura, próximos e distantes;
“Para
a criança berlinense ‘America’ é uma palavra pelos menos tão familiar e
corrente como ‘Potsdam’; e a importância da palavra é bem maior do que se
pensa. O fato de designar o mais longínquo não impede a fantasia de alojar-se
de maneira íntima e criativa” (BENJAMIN, 2002).
• Apresentar
os elementos da cultura, evitando bálsamos;
“Se
as crianças devem tornar-se um dia sujeitos adultos completos, então não se
pode esconder delas nada que seja humano” (BENJAMIN, 2002).
Conteúdos culturais e
organização dos espaços...
Planejar
a organização dos espaços considerando:
• A análise crítica das mercadorias da Indústria
Cultural?
• As condições socioeconômicas das crianças?
(contexto)
• Os possíveis modos de relação entre criança e
adulto e entre os pares?
• As emoções, tal como o medo, e as
necessidades, tal como a fome e a sede?
• A segurança?
• A apresentação de novos objetos culturais
(impulsos e motivos)(interesse)?
• A possibilidade de reconstrução de
acontecimentos do passado?
• As experiências com a linguagem?
Planejar
a organização dos espaços considerando:
Que
elementos/objetos da cultura/conteúdos culturais compõem o espaço (de onde
provem minhas inquietações e) em que desenvolvo práticas pedagógicas
intencionais?
Que
elementos/objetos/conteúdos da cultura excluo do espaço?
Que
elementos próximos às crianças compõem o espaço?
Que
elementos distantes às crianças compõem o espaço?
Que
operações com os significados o espaço oferece?
Que
formas de comunicação o espaço dispõe?
Que
ações/atividades o espaço favorece?
Que
experiências sensoriais o espaço oferece? O que se pode experimentar? De que
modos?
Que
movimentos o espaço favorece e desfavorece?
Que
formas de controle o espaço impõe?
O
espaço pode ser desconstruído?
Para que a inserção de
cada indivíduo particular na história do gênero humano ocorra, não é suficiente
nascer e viver em sociedade, não basta o contato imediato com as objetivações
humanas.
Para que os indivíduos
se insiram na história, humanizando-se, eles precisam de educação, da
transmissão da cultura por parte de outros indivíduos. No ato educativo, reside
a plataforma do ser social, isto é, de um ser cujo desenvolvimento é
condicionado pela qualidade das apropriações que realiza nos espaços
em que vive e convive.
ESPAÇO
n Apropriações
n Objetos
n Pessoas
n Relações
n Palavras
n Sentimentos
n Recordações
n Narração
n Cores
n Texturas
n Cheiros
n Sabores
n Ritmos
n Melodias
n Necessidades
n Regras
n Sensações
n Gestos
n Expressões
faciais
n Desafios
n Valores
n Proibições
n Imagens
UM
EXEMPLO
BENJAMIN, W. Obras escolhidas II:
rua de mão única. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.
A ILHA DOS PAVÕES E GLIENICKE
“ [...] a alegria de aprender a andar
de bicicleta, de outra feita, não teria sido maior se com isso não tivesse
conquistado novos territórios. Isso se deu num daqueles ginásios de piso
asfáltico, onde, durante toda moda do ciclismo, essa arte, que hoje as
crianças se ensinam umas às outras, era ensinada com tanta formalidade quanto à
direção de automóveis. O ginásio ficava no campo, perto de Glienicke.
[...] Os balneários
públicos exibem com frequência piscinas para nadadores e para os que não sabem
nadar; do mesmo modo, se podia falar aqui de uma separação. Pois, de fato, ela
existia entre os que tinham de se exercitar no piso asfaltado e os que outros
que podiam sair do ginásio e pedalar no jardim. Demorou algum tempo até que
eu ingressasse nesse segundo grupo. Porém, num belo dia de verão permitiram que
eu saísse. Fiquei atordoado. O caminho era de cascalhos; as pedrinhas
rangiam; pela primeira vez, não havia proteção alguma contra o sol
que me cegava.
O piso do ginásio
era sombreado e cômodo e não possuía caminhos predeterminados. Aqui,
no entanto, os perigos nos espreitavam a cada curva. Embora não tivesse
nenhuma roda livre e o caminho fosse plano, a bicicleta parecia mover-se por
conta própria. Era como se eu jamais a tivesse montado.
Uma vontade autônoma
começou a se manifestar no guidom. Cada buraco na estrada ameaçava me tirar
o equilíbrio. Havia muito que eu desaprendera a cair, mas eis que agora a
gravidade fazia valer sua força, à qual renunciara durante anos. [...] Os
galhos das árvores zuniam em meu rosto quando passei e, quando já
perdera toda esperança de poder parar, de repente me acena o suave limiar da
entrada. Com o coração palpitando, mas com todo o ímpeto que o declive
acabara de me dar, emergi na sombra do ginásio, montado na bicicleta. Ao
desmontar, o fiz com a certeza de que [...], o palácio de Babelsberg com suas
graves ameias e os perfumosos pomares de Glienecke, caíram em meu regaço,
através da aliança que fiz com aquele declive, com tanta felicidade [...]”(BENJAMIN,
2000, p. 138).
ESPAÇO
n Alegria
n Atordoamento
n Felicidade
n Susto
n Medo
n Segurança
n Conforto
n Comodidade
n Palpitação
n Desafio
n Conquista
n Distâncias (perto/longe)
n Funções
n Cegueira
n Zunidos
n Modos
de deslocamento não predeterminados
n Separação
entre competentes e não competentes
n Perigos
à espreita
n Cascalho
n Buracos
n Pedra
n Árvore
n Sol
n Cheiros
n Desequilíbrios
e equilíbrios
n Gravidade
n Sombra
n Diluição
e domínio
n Matéria-prima
da experiência subjetiva, da narração
Proximidade e
Distanciamento
“Cada educador deve ser
um pesquisador da sua prática pedagógica, precisa ter o olhar afiado pela
dimensão investigativa ou imitará durante toda a vida as vivências escolares ou
as aulas ‘práticas’ da licenciatura. O tempo não legitima a prática
profissional. Quantas vezes já se ouviu uma das seguintes variações: ‘Isso eu
já sei porque sou professor há vinte anos’; “Criança eu conheço, é assim
mesmo’; [...]. É de se perguntar: esses colegas de fato ministram aulas há
tanto tempo, ou há tanto tempo ministram a mesma prática?” (VAZ, 2008).
Ao final do encontro Professor Jaison agradeceu aos professores que acompanharam a
formação ao longo do ano, agradeceu também à Secretaria Municipal pelo convite.
As atividades foram encerradas
aproximadamente às 12 horas.
Referência
VAZ, Alexandre F.; RICHTER, Ana C.; BASSANI, Jaison. J. Espaço e
tempo na educação infantil: Brincadeira, brinquedo, conteúdos culturais,
interações. Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina, 2014. 26 slides: color. Slides gerados a partir do software
Power Point.
BRASIL. Ministério da
Educação. Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação
Infantil. Brasília, MEC/Secretaria de Educação Básica, 2006 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparinfestencarte.pdf.
Acesso em 10.11.2014.
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