Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

RELATÓRIO - 30/09

Primeiramente, recapitulamos o que foi debatido no encontro anterior, articulando a discussão teórica, proposta nos textos , com as imagens, em relação ao papel/função do professor de Educação Física na Educação Infantil. O diálogo com os demais profissionais da instituição é um caminho para o desenvolvimento de uma prática docente de qualidade, construindo um vínculo entre os saberes, buscando a totalidade do trabalho pedagógico, pautado pelas necessidades, interesses e demandas das crianças.
As práticas corporais devem ser trabalhadas pela instituição de uma forma integrada, e a Educação Física tem grande importância neste processo educacional, contribuindo principalmente para a construção e ampliação do repertório de experiências corporais das crianças.
Em seguida, assistimos as imagens de uma aula da professora Inelve , e os professores da rede destacaram a diversidade de brincadeiras e materiais, organizados de uma maneira que consideramos como “o olhar da Educação Física”, de alguém atento às experiências do corpo, em especial quando em movimento.
Surgiu então, uma temática interessante: como ampliar o repertório de movimentos das crianças, usando os mesmos materiais e espaços? Apesar da ausência da professora Inelve no encontro, supomos que a proposta tem sempre um tema diferente, provavelmente dispondo os materiais de outra forma, com outras brincadeiras. Ainda sobre este assunto, duas professoras destacaram a capacidade que as crianças possuem para recriar as brincadeiras, buscando novos desafios.
O corpo é vivenciado muitas vezes como a própria brincadeira e também como um grande desafio, na tentativa de superar limites, experimentar novas sensações e outras possibilidades de se movimentar, sendo um dos elementos que constitui a cultura infantil, manifestando-se com uma diversidade de significados, linguagens e emoções. A presença da Educação Física na pré-escola contribui no desenvolvimento do se-movimentar (Kunz, 1991), onde a criança vivencia as três dimensões do movimento, o sentir, pensar e o agir, (Kunz, 1991) sendo de grande relevância para a formação.
A questão do tempo das práticas de Educação Física foi outro elemento abordado a partir das imagens, aliás, essa discussão acompanha os projetos de formação continuada desde 2002, e o atual grupo argumentou que a temporalidade da intervenção deve ser suficientemente extensa para as crianças vivenciarem o que é proposto, adequando o tempo das aulas aos objetivos da formação .
Outra temática relacionada às imagens foi a presença da professora de sala durante as intervenções da Educação Física, e a resposta dos professores da rede foi que essa participação varia, é mais pessoal, pois alguns participam sempre e ativamente, muitas vezes não sendo possível evidenciar quem está conduzindo a aula (como relatado por uma professora), e se outros apenas acompanham ou não participam. Outra resposta foi que esta relação, este envolvimento, é construído, com o professor de Educação Física assumindo um papel de orientador destas professoras, pois na maioria das vezes, elas têm um outro olhar sobre a prática, mais preocupadas com a segurança das crianças, e não enxergam a importância e a real contribuição que a Educação Física pode dar para a formação dos pequenininhos. É possível que com esse diálogo, elas (professoras de sala) possam compreender melhor e ver sentido no que está sendo proposto.
A prática pedagógica deve propiciar momentos prazerosos e formadores, mas alertamos que não pode se esgotar no que as crianças “gostam” e querem de forma casual ou imediata, mas trazendo constantemente novos elementos que contribuam para ampliar o repertório de movimentos, sensações, emoções, situações e gostos. Para tal, a técnica se torna um elemento fundamental e libertador, na medida em que as crianças aprendem a técnica de um determinado movimento, elas absorvem também os perigos oferecidos e as outras possibilidades existentes deste mesmo movimento.
Apesar da importância da técnica, ela não deve ser a finalidade da proposta pedagógica, e sim um elemento para potencializar o prazer e o alcance de novas possibilidades de movimento, possibilitando que as crianças se sintam mais seguras na execução de um gesto durante a brincadeira e também dando subsídios para elas criarem maneiras próprias de se movimentar a partir da técnica básica.
Para que as técnicas corporais sejam compreendidas pelas crianças, é preciso dar um sentido que as mobilize a aprenderem, e que deve estar intimamente ligado ao imaginário. Aqui se coloca um importante papel do professor de Educação Física na Educação Infantil, encontrar o estado de empatia entre os objetivos da aula e a linguagem multidimensional da criança.
Talvez, esta seja a tarefa mais difícil do professor de Educação Física, mas propomos que, por meio da observação atenta do cotidiano da instituição, a reflexão crítica da própria prática pedagógica e a pesquisa , essa dificuldade possa ser superada para que as crianças vivenciem experiências realmente formadoras no processo educacional.
Dialogando com essa dificuldade, surge o tema da formação acadêmica da Educação Física, com um déficit no ensino dos conteúdos clássicos, entre eles o das modalidades esportivas, sendo este muitas vezes um fator limitante para a ampliação do repertório de movimentos corporais das crianças, com professores repetindo atividades baseadas em suas experiências pessoais, usualmente calcadas no princípio esportivo, privando os pequeninos de experimentarem uma gama vasta e importante de movimentos.
Já finalizando o encontro, foi brevemente relatada uma experiência no ensino da capoeira, conteúdo com o qual vários têm dificuldades por conta de nossa formação fragmentada na licenciatura em Educação Física. Um momento interessante do que foi relatado diz respeito ao trânsito de trazer para a instituição os conhecimentos da capoeira (ou de outras práticas corporais), na forma de oficinas, por exemplo, e, ao mesmo tempo, buscar esses conhecimentos ao levar a si e as crianças para os locais onde a capoeira é praticada.
Esta forma dinâmica de tratar o conhecimento é muito produtiva, pois o professor também se forma nestas experiências, ampliando o repertório pessoal de conhecimento, algo que poderá desdobrar em suas intervenções.
1 Vaz, F. Alexandre. Aspectos, contradições e mal-entendidos da educação do corpo e a infância.Sayão, T. Deborah. A construção de identidades e papéis de gênero na infância: articulando temas para pensar o trabalho pedagógico da Educação Física na Educação Infantil.
2 As imagens foram feitas na creche Nossa Senhora Aparecida, sendo documentada uma proposta de interação entre 3 turmas de diferentes idades, planejada pela professora de Educação Física e articulada com toda a instituição.

3 Ver: Sayão, Deborah T. O Fazer pedagógico do professor/a de Educação Física e Cardoso, Carlos L. Emergência Humana, Dimensões da Natureza e Corporeidade: sobre as atuais condições espaço-temporais do se-movimentar.
4 Ver: Adorno, Theodor. Educação após Auschwitz e Vaz, Alexandre F. Técnica, esporte e rendimento.

5 Ver: Vaz, Alexandre F. Aprender a produzir e mediar conhecimentos: um olhar sobre a prática de ensino de Educação Física. Motrivivência, 1999.
Referências
KUNZ, Elenor. Educação Física: Ensino e Mudança. Ijuí: Ed. Unijuí, 1991.

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