Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

RELATÓRIO - 14/10

A discussão teve início com o tema do lugar social que as instituições educacionais ocupam, que está sendo cada vez mais esquecido, havendo uma precarização dos objetivos educacionais, que é a formação e a humanização das crianças e jovens. Fazendo parte deste contexto, a Educação Física sofre problemas de legitimação: o que justifica, por exemplo, a presença dos professores de Educação Física no ensino de 0 a 5 anos ? Que conhecimentos são transmitidos nas aulas de Educação Física que não poderiam ser contemplados fora da instituição ou por profissionais de outras áreas, como os/as pedagogos/as?
A realidade das práticas pedagógicas de Educação Física na educação infantil ainda é em grande parte desconhecida e apesar da documentação de algumas ótimas propostas de professores e professoras deste grupo, a falta de pesquisas contribui para que essa especificidade não seja reconhecida. Isso acaba gerando uma falta de subsídios para reflexão e orientação, levando freqüentemente à reprodução de atividades que seriam facilmente realizadas fora das creches, um problema que atinge também a Educação Física escolar.
As aulas de Educação Física poderiam ampliar o repertório corporal, propiciando a experiência de movimento em suas amplas dimensões (sentir, pensar, agir), contribuindo significantemente para a formação pessoal, onde as crianças experimentariam sensações de medo, desafios, podendo superá-los, criando sentimentos que muito ajudariam neste processo.
Para tal, é preciso que o espaço da Educação Física na educação infantil seja pensado, fundamentado e modificado, como comentado pelo grupo, procurando o campo de atuação dos professores de Educação Física, na medida em que as práticas pedagógicas se misturam no contexto da educação infantil, materializando a concreta contribuição dessa prática na complexidade do trabalho pedagógico.
O movimento de aproximação com outros professores da instituição faz parte, paradoxalmente, da busca pela legitimidade da prática da Educação Física, pois a afirmação da sua presença na educação infantil tem sentido quando analisada de uma forma integrada com os outros saberes, sendo o corpo um elemento que perpassa toda a instituição, seja nos momentos de higiene, nas aulas de Educação Física, na hora do sono, por isso a proposta de não fragmentar a educação infantil, fundindo as áreas atuantes neste contexto para que as crianças recebam a educação como um todo.
Outro elemento que não pode ser esquecido nas práticas de Educação Física no 0 a 5 anos, é a técnica, presente em vários momentos da educação dos pequeninos, como, por exemplo, para comer é necessário a técnica para segurar o garfo ou colher, para escovar os dentes ou para realizar determinado movimento na aula de Educação Física; então não podemos negligenciar a importância da técnica e sim observá-la como um elemento emancipador, fundamental para a formação humana. É preciso ficar atento, no entanto, ao erro que é a idolatria pela técnica, tratando-a como um fim, quando deveria ser vista como um meio para os objetivos educacionais.
Uma constante durante os encontros é a preocupação com os diversos problemas emergentes das práticas pedagógicas com as quais não sabemos lidar, em relação à sexualidade e gênero, em relações de poder, ou mesmo preconceitos, violência, refletindo na prática em situações de agressão física, monopolização de brinquedos ou com crianças “limpas” não querendo dar as mãos para crianças “sujas”. As múltiplas hierarquias étnico-raciais, de classe, ou de força física, não podem ser consideradas como “coisa de criança”, e sim um problema pedagógico a ser enfrentado, discutido e refletido, pois o silêncio é um aliado para que essas práticas se perpetuem. Esses elementos que emergem também na prática pedagógica, após enfrentados, discutidos e refletidos, podem favorecer a busca por ações para sua superação.
Como organizar a prática pedagógica que intervenha nesse processo? Esta pergunta certamente não é fácil de responder, muito em função da própria formação dos professores no ensino superior, que está distante da real situação das creches e escolas em relação à violência, preconceito racial, inclusão de pessoas com histórico de deficiência, contribuindo para que esta realidade se prolongue e se consolide cada vez mais.
A falta de pesquisas sobre as práticas pedagógicas reais nas universidades, a não documentação dos problemas e dificuldades dos professores atuantes nas instituições de 0 a 5, a carga horária excessiva, entre outros inúmeros fatores, faz com que haja uma “normalização” dessas condutas, e o professor muitas vezes não consegue enxergar e refletir sobre a sua prática docente por limitações individuais e de formação, ou mesmo porque se cansa desta rotina desgastante, e não muito raro finge que não vê, para poupar-se do desgaste físico e psicológico.
Para combater estes problemas evidentes relatados com freqüência pelos professores da rede, primeiro é preciso considerar que o problema existe, para então refletir e criar estratégias concretas para intervir. Algumas possibilidades foram sugeridas no encontro, e uma delas é ter um intervalo entre as aulas, para que a rotina não se torne muito desgastante, e outra, é estabelecer uma ordem de prioridades para serem resolvidas, porém vale ressaltar que a construção de estratégias para intervir é pessoal, pois estamos lidando com crianças que são seres altamente complexos e realidades sociais diferentes.
Tentar abraçar a avalanche de problemas emergentes das práticas pedagógicas pode ser frustrante, por isso organizar uma ordem e começar aos poucos é uma estratégia que pode ser eficaz. Cabe ao professor, por meio da reflexão e observação atencional, criar seus mecanismos e testá-los, pois só quem está atuando nesta realidade é capaz de perceber a eficácia.
As práticas docentes em Educação Física precisam ser desnaturalizadas, encarando as crianças como seres complexos, que provêm de famílias multifacetadas, com dificuldades e problemas que se traduzem na hora da prática pedagógica, então, se faz necessário, uma aproximação do professor com seus alunos, procurando desvendar e conhecer a realidade deles, criando um vínculo relacional afetivo que em muito ajudará na formação da criança e também no desenvolvimento das aulas.
Finalizando o encontro, surgiu a discussão sobre a legalidade da Educação Física na educação infantil, que sofre algum tipo de dificuldade, mesmo que os professores de Educação Física estejam atuando na educação infantil desde 1982 , porém ainda não possuem sua presença garantida por lei, havendo um “empréstimo” destes profissionais para atuarem neste campo.
O distanciamento da proposta da secretaria para os assuntos discutidos durante os encontros pelo grupo ainda é grande, então como fazer a aproximação das práticas pedagógicas reais das questões legislativas? Qual o caminho para esclarecer questões relevantes que precisam ser superadas?
O fato de a Secretaria reconhecer o grupo é importante e também um começo para que ele paute o debate a partir das discussões e reflexões emergentes das práticas reais a proposta da Educação Física para a educação infantil. O grupo possui um acúmulo de conhecimento suficiente para construir um conjunto de idéias teórico-metodológicas com um olhar a partir da realidade das práticas, de modo a poder encaminhar propostas para a Secretaria Municipal de Educação.
Parece ter chegado a hora de haver um enfrentamento por parte do grupo para que questões que afetam diretamente o desenvolvimento de práticas pedagógicas construtivas sejam superadas, pois acima da disputa por campo ou melhores condições de trabalho, está a formação humana das crianças que deve ser o objetivo maior do processo educacional.
O grupo, após muitos anos de discussões acerca do tema da Educação Física na Educação Infantil, questões emergidas da prática, poderia contribuir com a SME. Um exemplo é o Tempo Pedagógico X Tempo “Cronológico”, uma crítica do grupo ao modelo escolarizante adotado na Educação Física em suas intervenções na Educação Infantil: sendo realizada 3 (três) vezes na semana durante 45 (quarenta e cinco) minutos. Para o grupo este tempo deve ser direcionado conforme a(s) necessidade(s) (o tempo) e interesses educativos das crianças, fato este já modificado em algumas instituições de professores presentes.

1. A Lei Nº 11.114, de 16 de Maio de 2005, torna obrigatório o início do Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos de idade. A Lei Nº 11.274, de 6 de Fevereiro de 2006, ampliou o Ensino Fundamental para 9(nove) anos, sendo a matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos. Tem-se aí duas modificações no Ensino Fundamental e por conseqüência altera também a Educação Infantil que passa então a atender crianças com idade entre 0(zero) a 5(cinco) anos de idade, sendo que para esta adotando a seguinte nomenclatura: creche até 3 anos e Pré-escola 4-5 anos.
2. A Educação Física foi implementada na RME de Florianópolis no ano de 1982. Mais informações encontram-se na Dissertação de Déborah T. Sayão.

2 comentários:

Michelle disse...

Parabéns pelo trabalho, André! O blog tá ficando legal. Gostei muito da idéia.
Abraço!

lorenahelena disse...

Ok