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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

RELATÓRIO 29/10

Com a nova legislação, que adiantou a escolarização em 1 ano, cabendo à educação infantil trabalhar com crianças de 0 a 5 anos, acrescentando mais uma série ao ensino fundamental, talvez se acentue uma quebra muito dura e impactante no fluxo educacional, tendo as crianças que se familiarizarem com novos elementos que até então não faziam parte de seu mundo, tais como a obrigatoriedade do uso do uniforme, espaço físico da instituição, o tempo mais controlado, maior rigidez e cobrança, dentre tantos outros.
Essa questão não diz respeito apenas à idade, pois o maior entrave discutido pelo grupo foi exatamente a fluidez do sistema educacional, onde os pequeninos saem de uma instituição voltada para o cuidado, a brincadeira, o imaginário, a educação corporal menos determinada, dentre outros, ligadas ao mundo lúdico e à cultura infantil, e entram na escola pautada pelas regras, condutas e demandas sociais estritas, vinculadas ao mundo adulto, concebendo o tempo de outra forma, altamente ligada ao controle e à produção, refletindo em práticas de domínio corporal, como sentar em carteiras, geralmente no mesmo lugar, permissão para beber água ou ir ao banheiro, ou mesmo punições, como ficar de fora na aula de Educação Física. Todos estes novos elementos podem ser muito impactantes para a experiência infantil.
Apesar de não termos tantos dados sobre a realidade das práticas pedagógicas em escolas nesta faixa etária, questionamos a preparação das instituições e dos profissionais que nela atuam para receberem crianças de pouca idade (6 anos). São freqüentes durante o ensino fundamental as piadas e comentários discriminando a infância, referindo-se a esta fase da vida como aculturada, sem um valor significativo e que deve ser esquecida.
Outra estrutura social abalada com esta nova legislação, comentada no encontro, é a família, que antes podia deixar suas crianças sob os cuidados de profissionais nas creches e NEIs, agora relatam que as crianças ficam em casa, muitas vezes sozinhas, tendo contato com responsabilidades que não estão de acordo com suas demandas, como limpar a casa, a louça, roupa; aqueles com melhores condições sociais têm um videogame como companheiro.
Um exemplo citado no encontro, ao se relatar uma intervenção em que alunos de 9 anos não queriam tomar parte de uma atividade por avaliá-la como uma proposta que seria “coisa de criança”: muitos deles com uma corrente presa à calça, porém traídos pelo desejo ao verem os demais colegas se divertindo, se entregam à brincadeira e ainda utilizam as correntes (símbolo de juventude) como objeto lúdico que representa a correia do cavalo. Isto nos faz abrir uma reflexão sobre como esta escolarização pode ser um dos elementos que condicionam as crianças a amadurecerem mais rápido, privando-as de experiências únicas e de grande importância para a formação, direcionando-as cada vez mais cedo para o mundo do trabalho, representado na escola pelo tempo, provas, tensão, cobrança, rendimento, dentre outros tantos elementos.
A partir da discussão de imagens feitas em uma intervenção da Professora Denize, concordamos que a elaboração de uma proposta educacional está relacionada à visão de aprendizagem da instituição, com os conteúdos/linguagens que são apoiados por ela, e a Educação Física neste contexto deve ser analisada de uma forma institucional, ou seja, integrada com os demais saberes . Como relatado pela professora de Educação Física das imagens, a proposta foi construída ao longo dos anos, tendo sido no início organizada apenas pela Educação Física, e aos poucos foi se configurando como acontece hoje.
A inclusão de alunos com histórico de deficiência nas práticas pedagógicas de Educação Física é um grande desafio para os professores, que possuem um déficit acadêmico enorme em relação à inclusão. Isso, aliado à política excludente do sistema educacional até pouco tempo vigente, fez com que historicamente se constituísse profissionais despreparados para intervir nesta realidade. O preconceito embutido na cultura é certamente outra fator que limita as práticas docentes inclusivas, pois quais os lugares sociais que as pessoas com histórico de deficiência ocupam para nós? Qual a representação que temos das pessoas com histórico de deficiência? Então, a problemática da inclusão deve ser analisada tanto pelo viés da formação acadêmica quanto o cultural, o que exige do professor muita disciplina e auto-crítica, inclusive de sua própria formação cultural, procurando superar possíveis preconceitos.
Uma questão para refletirmos referente à formação acadêmica e a inclusão, é como um professor licenciado em um curso altamente esportivizante, que se pauta pela eficiência, irá conseguir criar possibilidades de inclusão de deficientes? É preciso ficar atento a experiências que podem ser frustrantes, propondo atividades não condizentes com a capacidade motora e intelectual do aluno, incapacitando-o de vivenciar uma brincadeira. Mais problemático é não permitir que as crianças com histórico de deficiência tenham a possibilidade de vivenciar as brincadeiras e atividades, quando experimentariam o sucesso e o fracasso ( vitória/derrota ) o que contribuiria para a aprendizagem social.
A segurança e a confiança são alguns dos elementos citados no encontro, e que são fundamentais quando em contato com crianças de pouca idade, sendo assim também na presença de crianças com histórico de deficiência. A segurança busca preservar a integridade física, adequando o material, espaço e atividades às capacidades dos alunos, tentando encontrar a dimensão em que a experiência seja prazerosa e segura. Para tal, a confiança é primordial para que a criança com histórico de deficiência vivencie as práticas propostas, construindo uma relação afetiva entre professor-aluno que possibilitará a sua participação efetiva no desenvolvimento da aula, contribuindo no processo de formação da personalidade e da individuação.
Dialogando com a temática da inclusão está a competição, que geralmente é trabalhada na escola dando ênfase aos resultados, quando o que interessa é a vitória. Sendo assim, os professores de Educação Física encontram enormes dificuldades para trabalhar a inclusão neste contexto, pois a competição em busca da vitória não é o único objetivo para as pessoas com histórico de deficiência, que atribuem um grande valor ao processo e não apenas no resultado.
Alguns depoimentos oriundos de práticas pedagógicas relataram que crianças que desejam o resultado, normalmente os “melhores” em uma determinada modalidade, têm uma tendência a serem mais violentas, enquanto aqueles que não jogam muito bem assumem papéis secundários no jogo e tendem a ficarem dispersos, ou seja, são meros coadjuvantes no jogo que não reconhecem o seu papel no jogo.
Numa estrutura social que ensina que ganhar é o melhor, assim se será venerado, trará sorrisos, felicidade, fica difícil imaginar um outro modelo esportivo. Cabe, porém, ao professor, criar estratégias que façam as crianças se sentirem valorizadas no jogo, não assumindo o papel de excluídos incluídos, que não raro acontece nas instituições de ensino.

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