A documentação das práticas pedagógicas de Educação Física vem sendo um tema abordado pelo grupo como um elemento importante no período docente, contribuindo para refletir e construir intervenções de sucesso ao longo deste período, podendo ser utilizado como material de divulgação e como armazenamento destas práticas que possivelmente seriam esquecidas ao longo dos anos no magistério. A professora Geisa apresentou a documentação de um processo pedagógico baseado no boi-de-mamão, que tinha o brincar como eixo norteador, elaborado por ela num trabalho conjunto com a professora de sala.
O caminho foi sendo descoberto ao longo do processo, apesar de haver um planejamento prévio, após cada intervenção as professoras faziam uma reunião para encaminhar a aula seguinte, reformulando e adaptando as atividades ao ritmo das crianças, respeitando o interesse e tempo delas, pois como relatado, alguns dias elas queriam apenas brincar com os personagens e outros se dedicavam a construção. Não determinar as intervenções de uma proposta pedagógica a priori parece ser uma necessidade para desenvolver um trabalho satisfatório, incluindo os alunos não só do desenvolvimento, mas também no planejamento, na medida em que o professor percebe a dinâmica, o interesse, o tempo, os desafios, os espaços, os materiais, dentre outros elementos da prática pedagógica que mobilizam os alunos a participarem, sendo a reflexão uma ferramenta importante na construção de práticas formadoras e interessantes.
Durante o processo relatado, houve uma separação de tarefas entre os alunos, muito em função do interesse, pois alguns não queriam colocar a mão no “grude” (material feito com cola, papel e água), se atendo com picar os papéis ou modelar os personagens, enquanto outros ficavam toda a aula mexendo no “grude”. Ao longo do processo as práticas foram se adequando ao tempo que as professoras perceberam ser suficiente para contemplar o interesse das crianças por esta atividade, que era realizada cinco vezes por semana, três para a confecção dos personagens, normalmente uma hora, e duas para brincar e desenvolver atividades com o boi-de-mamão, durante uma hora e meia.
Um fato importante no processo de construção foi que as crianças modificaram a história do boi-de-mamão, criando novos personagens (como o urso branco, pois as crianças queriam um irmão para o urso preto), recriando alguns personagens (o cavalo foi feito rosa, votado pela turma) e criando novas movimentações para cada personagem (que possuem movimentos característicos).
Essa proposta de trabalhar com o boi-de-mamão faz parte de um projeto da unidade, que visa estimular brincadeiras de faz-de-conta, e neste processo desenvolvido pela Educação Física, novos elementos eram colocados para estimular a imaginação. A experiência do boi-de-mamão foi tão significante, que as crianças vivenciaram profundamente o mundo imaginário da história dos personagens e como relatado pelas mães, tinham dificuldades de dormir com medo da bernuza (personagem do boi-de-mamão) em baixo da cama.
O processo de construção dos personagens é muito rico, e como a proposta foi desenvolvida com apenas um grupo foi mais fácil documentar e captar o que as crianças estavam imaginando. A professora de sala que fez parte do processo tinha grande conhecimento em artes, ajudando a colocar o que as crianças imaginavam nos personagens construídos.
Após a confecção e vivência dos personagens, teve um momento de interação, em que a turma se apresentou para as outras da instituição, e todos puderam participar. O material construído também era emprestado para as outras turmas, porém não era muito fácil, pois as crianças que participaram do processo desenvolveram um sentimento de pertença muito grande.
O registro das intervenções também foi feito com fotografias e filmagens, acontecendo uma exposição na sala, onde os familiares também puderam ver quando deixavam as crianças. As imagens foram exibidas para a turma ao término do processo e ao se verem, os alunos faziam alguns comentários, tais como: por que você não fez assim? Se referindo ao jeito de dançar. As documentações em fotos e imagens parecem ampliar ainda mais a dimensão da brincadeira, possibilitando a auto observação durante o processo de construção, o que as crianças mostram gostar muito.
Uma visita a outra instituição a fim de proporcionar um encontro de bois tentou ser encaminhada, mas sem o apoio da direção não foi possível viabilizar um ônibus para fazer o transporte, e como as crianças eram de uma baixa classe social, a possibilidade de elas pagarem foi descartada.
As intervenções não contavam com a presença da professora auxiliar de sala, e como relatado pela professora Geisa, não fazia falta, pois para participar a pessoa tem que estar de corpo e alma no processo, se é para atrapalhar é melhor ir tomar café. Dentro da instituição também houve questionamentos a respeito da especificidade da Educação Física na Educação Infantil, apontando o trabalho desenvolvido como pertencente as artes, mas como entre as professoras que estavam participando do processo esta questão já foi superada, a experiência tentou contemplar a totalidade do trabalho pedagógico, proporcionando variadas formas de dançar, se-movimentar e construir.
Outras práticas desenvolvidas na rede com o boi-de-mamão foram relatadas no encontro, usando outros espaços, com a presença da família, fazendo um encontro de bois ou com toda a instituição construindo os mesmos personagens. A documentação destas práticas pode ser utilizada para a divulgação dentro e fora do grupo, contribuindo para ampliar o repertório de possibilidades, estimulando e auxiliando outros professores em práticas futuras.
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