Caros colegas, este Blog tem como objetivo servir de ferramenta para os participantes da Formação Continuada dos Professores de Educação Física atuantes na Educação Infantil da Rede Municipal de Florianópolis, promovendo através de seu acesso a socialização de materiais e comunicação efetiva entre todos os professores.

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sexta-feira, 24 de abril de 2009

RELATÓRIO 31/03/09

Os professores de Educação Física desde 1982 atuam na Educação Infantil no município de Florianópolis. Este período considerável não foi sendo alimentado pelo debate crítico, tendo começado a partir da segunda metade da década de noventa, com os avanços das discussões a respeito da infância e também no campo da Educação Física.
É preciso lembrar que nem sempre a Educação Física esteve presente nas creches e NEI´s. Estas instituições, que foram uma conquista da classe trabalhadora, surgiram com um caráter muito assistencialista, voltado para o cuidado e guarda das crianças. Por muito tempo este ideal prevaleceu na Educação Infantil e de certa maneira ainda pauta o trabalho pedagógico dos profissionais que atuam com esta faixa etária, por um motivo óbvio, as crianças precisam de cuidados em relação à higiene, alimentação, integridade física, porém foi somado a esta perspectiva assistencialista uma dimensão educativa, ou seja, além dos cuidados as crianças precisavam ser humanizadas.
Neste contexto a Educação Física vem se fortalecendo, pelo menos com a presença de professores atuando nestas instituições, e mais recentemente com importantes pesquisas de Sayão na área, aprofundando e clareando o fazer pedagógico do profissional de Educação Física nas unidades de ensino infantil.
O grupo concorda que a formação acadêmica é um dos fatores que contribuiu para este cenário, sendo uma formação altamente escolarizante e pautada por um disciplinamento muito forte, tendo tido (e ainda) grande influência do treinamento desportivo, principalmente na questão da divisão do tempo, baseada nos princípios do estímulo, descanso e sobrecarga, buscando o mais alto rendimento, seguindo a lógica das sessões de treinamento, aquecimento, parte principal e volta à calma. Talvez por esta razão que a Educação Física escolar e também infantil se configura em três aulas semanais, normalmente em dias intercalados, obedecendo exatamente aos princípios expostos acima.
Outra questão da formação profissional é o déficit de conhecimento em relação à Educação Infantil, pois como denuncia Sayão, “há, evidentemente, um certo descaso com a atuação desses/as profissionais, que se expressa, por exemplo, nos currículos de formação dos cursos de graduação que não incluem uma discussão acerca da infância e das crianças pequenas para além do Desenvolvimento Motor, da Recreação e da Psicomotricidade”. A materialização prática deste conhecimento defasado são aulas de Educação Física na Educação Infantil muito parecidas com as da Educação Física escolar, o que não é errado, mas devemos pensar em como trabalhar os conteúdos da Educação Física escolar na Educação Infantil, quais as contribuições que podem ser relevantes na educação dos pequenos. Refletir sobre a prática e conceber o exercício docente como um processo são ferramentas que podem ajudar a encontrar a empatia entre as necessidades e interesses das crianças e os conteúdos trabalhados.
Os debates contemporâneos encontram um ponto de tensão entre a pedagogia da infância, que busca uma educação integral das crianças, sem fragmentar em disciplinas o conhecimento e também o tempo, e a Educação Física, que é a única disciplina presente na Educação Infantil com um professor específico. Este impasse nos traz algumas questões para reflexão: É necessária a presença de um professor de Educação Física na Educação Infantil?; As pedagogas dariam conta de suprir as necessidades das crianças no que se refere ao movimento?; Como organizar o tempo pedagógico da Educação Física?; É possível haver uma flexibilização do tempo?; O que legitima a presença de professores de Educação Física nestas instituições de ensino?
Algumas propostas desenvolvidas na rede trazem respostas positivas para estas indagações, mas vale lembrar que a Educação Infantil e consequentemente a Educação Física sofre com disputas por campo de trabalho, ego, o que dificulta uma proposta conjunta que cotemple as necessidades das crianças.
Quando nos referimos ao âmbito da Educação Infantil, alguns conteudos/linguagens são tidos como tabus, como por exemplo trabalhar o esporte. É claro que não estamos falando da iniciação ao esporte ou mesmo a modalidade em si, com suas regras. Nos referimos em decodificar as práticas corporais esportivas em elementos que possam ser ensinados na Educação Física. Propostas nesta perspectiva estão sendo experimentadas por professores participantes do grupo, que relatam uma aceitação muito grande por parte das crianças, mas também que exerce uma função importante, que é o aprendizado da técnica.
O professor de Educação Física assume um papel imprescindível nesta decodificação dos movimentos, é preciso ficar atento, pois pode cometer equívocos e reforçar o fetiche pela técnica, além de limitar as possibilidades de movimentos corporais. Infelizmente, as propostas citadas acima estão fortemente vinculadas à experiência pessoal em alguma modalidade ou por esforço próprio dos profissionais, não recebendo a devida atenção nos cursos de graduação em Educação Física.
É inegável a força do fenômeno esportivo na sociedade contemporânea, e sua onipresença nas escolas acaba inibindo a vivência de outros elementos da cultura corporal. Por isto, ressaltamos que na Educação Infantil o esporte deve assumir outro sentido, caminhando na direção de ampliar o repertório de movimentos das crianças, se apropriando de alguns movimentos técnicos presentes em conteúdos clássicos da Educação Física, como o atletismo e a ginástica, por exemplo.
Este aprendizado de algumas técnicas corporais propiciam sensações, saberes e sentimentos que são interessantes. Percebe-se na afirmação que o gesto técnico não é o objetivo almejado e sim o conteúdo da experiência, a vivência. No decorrer destas experiências o professor deve ter o olhar atento e boa comunicação com seu grupo para propor desafios, incentivando que as crianças reelaborem e resignifiquem estes movimentos.
A sistematização destas práticas é uma importante tarefa, e exige planejamento, estudo (formação continuada) e reflexão. Novamente, pensar o trabalho docente como processo é outro fator a favor nesta sistematização, na medida em que as problemáticas forem emergindo das práticas pedagógicas, estratégias para enfrentá-las vão sendo construídas, absorvendo este aprendizado para repensar e reelaborar a proposta de trabalho. Pensar as aulas como episódios, que tem fim em si mesma, as experiências de sucesso e fracasso acabam caindo no esquecimento ou são lembradas de forma difusa.
Um problema oriundo da realidade concreta debatida no encontro foi em relação a negação de participação das crianças nas aulas de Educação Física. Concordamos que o professor não pode ser condizente com esta atitude, ele tem um compromisso pedagógico. Uma estratégia que vem sendo utilizada por professores do grupo e que como relatam, tem sido eficaz, é não obrigar o aluno a participar, porém é obrigatória a presença dele no local onde as atividades serão desenvolvidas. As crianças que não participam, ao verem os amiguinhos se divertindo, acabam sendo contagiadas e querem participar. Não estamos afirmando que esta é uma receita que deve ser aplicada nestes casos, são os relatos de professores que construíram mecanismos para enfrentar dificuldades, usando para tal a reflexão sobre a prática, num permanente processo de autoavaliação.
A relação pedagógica (professor-aluno) é sempre uma relação de autoridade, o que não significa que precisa ser autoritária. Ser condizente com todas as vontades das crianças é transformar as aulas de Educação Física em uma mercadoria a ser consumida por elas, e isto não é de forma alguma o que pretendemos neste grupo, a Educação Física tem um compromisso, um conhecimento a ser transmitido/construído para e com as crianças.
Outra problemática que faz parte da rotina nas instituições que atendem de 0 à 5 anos, é a questão da violência. O professor não pode de maneira alguma negligenciar e simplesmente fingir que não viu, até por que o professor é visto pelas crianças como a figura do adulto, capaz de resolver os problemas. Constantemente as crianças reclamam com o professor quando estas situações acontecem. Novamente deve-se buscar meios para intervir, apoiando-se em valores que devem estar imbutidos no processo educacional. Uma estratégia relatada por uma professora participante do grupo para enfrentar o problema da violência em suas aulas, foi dividir a turma, ficando com menos crianças, podendo dar maior atenção a cada uma, proporcionando experiências menos violentas.
Travamos uma breve discussão sobre o texto recomendado, principalmente na relação da técnica com a mímeses. A mímese, que se manifesta de uma forma espontânea, é de grande importância para a constituição do ser social, imitando o outro e neste processo, se reconhecendo no outro. Uma experiência vivida por uma professora do grupo, nos traz uma indicação de como a mímeses pode desempenhar um importante papel na aprendizagem de alguns movimentos corporais que são interessantes. Ela nos relatou que em um momento da Educação Física, em que a atividade proposta era brincar de perna-de-pau, nenhuma criança se sentia segura para andar, e epós ela ( a professora de Educação Física ) experimentar a brincadeira, mostrando para as crianças alguns movimentos técnicos necessários, as crianças ficaram confiantes e desfrutaram da brincadeira.
Tema constante nos debates do grupo, a organização do tempo foi mais uma vez alvo de nossas discussões. O grupo possui argumentos provindos das práticas pedagógicas, suficiente para conceber o tempo institucionalmente, em que a Educação Física pode durar mais ou menos que os atuais 45 minutos previsto na lei, dependendo da dinâmica e da experiência proposta. O relato de uma professora do grupo, que desenvolveu uma atividade e passou da hora que as crianças normalmente almoçavam, nos traz uma importante e intrigante questão para reflexão, parece haver um descompasso entre o tempo da instituição e o das crianças.
Algumas propostas de superação do tempo estão sendo experimentadas na rede, e uma delas é o momento denominado pelo grupo de interação, que consiste em proporcionar uma experiência de interação entre diferentes turmas, com diferentes idades ou não, normalmente por um período inteiro.
O professor de Educação Física é uma figura privilegiada dentro da instituição para organizar estas atividades, por não estar vinculado a uma turma especificamente. Não é o fato de o professor de Educação Física coordenar que exime as professoras de sala de participarem. Agregar outros profissionais nesta proposta, colabora no sentido de amplair as possibilidades de brincadeiras, podendo atender diversas idades, com diferentes interesses, além de que o professor de Educação Física não daria conta de supervisionar 2 ou 3 turmas ao mesmo tempo, isto quando não é toda a instituição. A participação das professoras de sala e mesmo a efetivação desta proposta inovadora deve também ser pensada como um processo, que é construído com a convivência e a troca de experiências entre os profissionais que atuam nas creches e NEI´s.
Finalizando o encontro, conversamos brevemente sobre a idéia que na Educação Física Infantil todas as crianças devem fazer a mesma atividade ao mesmo tempo. As crianças são oriundas de diferentes contextos sócio-culturais, sendo assim, com diferentes interesses e aprendizagens. Identificar estes interesses e aprendizagens pode ajudar o professor de Educação Física a diversificar suas intervenções, proporcionando para as crianças um vasto repertório de vivências corporais, e que o grupo argumenta ser de extrema importancia para o desenvolvimento integral da criança.

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