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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Relatório do dia 10/05/2011 - Formação Continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Florianópolis

No dia 10 de maio de 2011, às 09h e 25min teve início a reunião do Grupo Independente (GI). Neste encontro houve o relato da professora Inelve, apresentando sua experiência e atuação no projeto Boi-de-Mamão, o qual ela desenvolve nos momentos de Educação Física em uma creche de Florianópolis. O encontro teve a presença de 10 pessoas, sendo duas delas bolsistas do Núcleo de Estudo e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq), houve atrasos por parte dos professores.

A professora Inelve começou sua apresentação contando como surgiu sua paixão pelo Boi (assim chamado na conversa) na instituição. Foi por meio de sua colega Adriana, quando esta convidou os pais dos alunos e profissionais da creche para um mutirão com o objetivo de construir um Boi. A partir desse momento (2001), Inelve começou a se envolver e se entusiasmar por essa manifestação cultural popular – Boi-de-Mamão.

Foi observando que as crianças menores exerciam um papel de coadjuvante nessa dança devido ao tamanho dos personagens, impossibilitando que os pequenos brincassem de forma mais pleta, que Inelve teve a idéia de confeccionar os objetos em tamanho reduzido, mais apropriado para os pequenos. Nas férias de verão construiu os moldes e os brinquedos na medida certa, todos feitos à mão, utilizando a técnica de papietagem, pedaços de tecidos ganho dos pais de alunos e de uma costureira, ajuda de familiares na manufatura das roupas. Os personagens ficaram muito bem fabricados, de fácil manuseio, fortes e leves. Todo esse trabalho exige conservação e manutenção para que possam servir por muitos anos e para muitas crianças, algo que professora Inelve faz.

Com essa ação e criação, desde o Grupo 1 (crianças de 4 meses a 1 ano e 8 meses) ao Grupo 5 (crianças de 4,5 e 6 anos) dançam o Boi-de-Mamão, a cada quinze dias sistematicamente para toda a creche, com alternância de grupos e períodos, matutino e vespertino.

A metodologia utilizada pela professora Inelve visa uma continuidade do trabalho com o Boi durante o crescimento das crianças, o que resulta, na maioria dos casos, em uma maior familiarização com a prática, sendo apresentada as crianças essa cultura significativa do Boi-de-Mamão desde muito pequenas. O Boi é apresentado cautelosamente, os Grupos 1 e 2 inicialmente apenas assistem as crianças maiores dançando no salão da creche, em seguida são levados para a sala de aula, onde são disponibilizados os personagens da brincadeira confeccionados especialmente para a idade e tamanho das crianças, ouvem as músicas, colocam as roupas, experimentam. Assistem novamente os maiores dançando e vão se apropriando dessa manifestação cultural. Esse envolvimento com o Boi-de-Mamão existe durante os cinco anos que a criança permanece na creche.

Através dos vídeos que a professora Inelve trouxe, foi possível ver que para o G1 e G2 os brinquedos/personagens são dispostos no chão, as crianças escolhem e organizam quem querem ser, tendo a possibilidade de trocar de personagem em alguns momentos. A partir do G3 é previamente anotado, antes de começar a aula, em uma folha os respectivos atores/alunos e a cada dança são revezados os papéis, pois geralmente há uma grande preferência dos alunos para determinado brinquedo.

Existe um planejamento quanto ao horário de se dançar o Boi, delimitado pela professora Inelve antes de cada semana, porém, aquele é flexível. Sua duração depende de como a atividade está decorrendo e da participação das crianças. O CD das músicas do Boi-de-Mamão é posto e as crianças dançam livremente, não tendo um conjunto de movimentos pré-estabelecidos, o foco não está no sucesso de uma coreografia bem executada e sim na participação, que os pequenos possam brincar, ressignificar, cantar, dançar, aprender, ampliar suas experiências.

Para que isso ocorra é preciso uma grande organização e envolvimento da unidade escolar. Exige muito tempo para a organização do espaço e personagens para que a dança aconteça, intervenção das professoras nas turmas que irão assistir, participação das crianças e professoras na confecção dos avisos e na divulgação do folguedo (brincadeira que apresenta uma dramatização) do Boi-de-Mamão e em tantos outros momentos.

A dança acontece em momentos e espaços distintos. Nas aulas de Educação Física de cada turma, na forma de apresentação para toda a creche – determinado grupo apresenta, sempre havendo alternância a cada apresentação, e para pessoas de fora da instituição. Quando ocorre esta última, esporadicamente pode-se contar com a participação de pais, avós e outros familiares nos dias da dança. Nos últimos anos, houve ocasiões que apenas os familiares dançaram, possibilitando que as crianças assistissem seus próprios pais numa mesma atividade que realizam, e também momentos em que dançam juntos, pais e filhos, contagiando os pequenos.

As atividades são realizadas em espaços variados, são utilizados as salas, o hall de entrada, a quadra, o parque, sendo dançado também para outras instituições; em outros momentos é dançado fora da creche, tanto em espaços públicos como privados.

Uma das questões que foi discutida durante e depois da apresentação da professora Inelve foi a importância das crianças menores assistirem a apresentação sistemática das maiores, criando uma organização mental, um entendimento de que existe uma história, que cada personagens tem uma função.

O medo está presente quando falamos de Boi-de-Mamão – pela sua história e mistérios, na qual o Boi se relaciona com o vaqueiro e o Mateus, dando-lhes chifradas, assustando as pessoas; a Bernunça engole crianças de todos os tamanhos, dependendo da região; existe o Macaco que pega as crianças e leva embora. Visando também a redução do medo, as crianças que irão se apresentar se trocam na frente do público, mostrando que existe uma transformação e que o Boi, o Mateus, a Bernunça “são os meus coleguinhas”. A professora apresenta as crianças e seus personagens, levando a uma maior valorização deles, trabalhando a timidez, a inibição, gerando um aumento da confiança.

Outro ponto levantado foi como a criança incorpora, ressiginifica os personagens, e depois de algum tempo se apropria desse elemento da cultura regional. Como exposto pela professora Adriana ao Grupo, de acordo com o estudioso Nereu do Vale Pereira, cada personagem do Boi-de-mamão teria um perfil psicológico distinto a ser interpretado pelas crianças.

Na creche não se realizam ensaios antes das apresentações para que as crianças fiquem à vontade para brincar, movimentar-se de maneira autônoma, já existe uma familiarização das crianças com essa cultura. Foi ressaltado no encontro de terça a importância da participação das crianças, não havendo uma preocupação com o sucesso técnico, com a excelência, e sim com a experimentação.

A “ressuscitação” do Boi-de-Mamão foi apontada como de suma importância para que haja o resgate dessa cultura que está quase extinta. A retomada da dança está ocorrendo em algumas instituições de uma forma modificada em relação a sua origem. Foi comentado, então, que a cultura se modifica e como essa transformação pode ser positiva.

O Boi-de-Mamão dançado atualmente traz uma redução da agressividade, se comparado com outrora, a participação feminina é um êxito nessa cultura da qual só os homens podiam participar. Em nossas creches, NEIs e escolas podemos levar essa transformação em benefício da educação, abordando temas transversais, como comentou uma professora. Na escola onde ela atua, o Boi morre porque comeu lixo, mostrando a importância da preservação do meio ambiente, problematizando quem jogou o lixo que o boi comeu, assim cumprindo uma função de ensinar brincando.

O encontro foi encerrado com a idéia de reunir os Bois-de-Mamão das escolas municipais todos em uma determinada instituição para dançarem juntos.

Segue a baixo algumas sugestões de leitura sobre o tema discutido no encontro.


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