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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Relatório do dia 05/06/2012 - Formação da Rede Municipal de Educação de Florianópolis


No dia 05 de junho de 2012, às 08h e 20min, teve início o Encontro de Formação da Rede Pública Municipal de Educação. Ele contou com a presença de vinte e oito (28) professores, bem como de uma bolsista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq). O Encontro foi coordenado pelo professor Dr. Jaison José Bassani (DEF/CDS/UFSC), substituindo o professor Alexandre Vaz, e teve como tema “Desenvolvimento e aprendizagem: movimentos entre a natureza e a cultura I – as contribuições dos teóricos de século XX”.
Foi apresentado o roteiro que tinha sido preparado para o encontro, que não necessariamente precisaria chegar ao fim.  A dinâmica da discussão ficou separada em quatro (4) tópicos:
1º - Exposição dos pressupostos fundamentais das principais teorias da aprendizagem do século XX;
2º - As teorias da aprendizagem na compreensão e nas práticas educativas: derivações didáticas;
3º - Os múltiplos sentidos da palavra cultura;
4º - Educação Física e relações sociais e culturais: as técnicas corporais e os usos do corpo.
Jaison diz que se baseou em Pérez Gómez  (Para compreender e transformar o ensino, 1998). O professor começou a discussão sobre o primeiro tópico alertando que as teorias da aprendizagem são aproximações parciais e restritas de aspectos e áreas concretas da aprendizagem. Dificilmente constituem um corpo integrado de conhecimentos capaz de explicar o sentido global dos fenômenos complexos que ocorrem em nossas instituições.
Existem dois grandes grupos de teorias da aprendizagem, os quais não são homogêneos e há diferentes correntes e autores em cada um, classificados pelo critério de concepção intrínseca de aprendizagem: as Teorias associacionistas, de condicionamento, de Estímulo-resposta e as Teorias mediacionais. Para a primeira, aprendizagem é um processo cego e mecânico de associação de estímulos e respostas provocado e determinado pelas condições internas, desconsiderando o papel mediador da estrutura interna na aprendizagem; já para segunda, aprendizagem é um processo de conhecimento, de compreensão de relações no qual as condições externas atuam mediadas pelas condições internas, ou seja, a primeira desconsidera a importância da mediação daquele que conhece, e a outra enfatiza a importância dessa mediação para que ocorra a aprendizagem.
Jaison apresentou os principais autores da Teoria do Condicionamento, alguns deles são Pavlov, Watson, Guthrie, Hull, Thorndike e Skinner. Esta teoria concebe o homem como produto das condições externas, ou seja, o meio produz uma série de contingências que irão reforçar e determinar certas condutas comportamentais. Os objetos, situações, acontecimentos, pessoas, instituições, têm um valor de reforço na constituição de cada pessoa.  A educação converte-se em uma tecnologia para programar reforços no momento oportuno, o professor se utiliza de um conjunto de meios para atingir determinados fins. A aprendizagem é percebida pela sequência de estímulo, resposta, recompensa, culminando no aprendizado.
Uma das críticas a essa teoria é ela explicar a aprendizagem como uma relação simples de entrada e saída, estímulos e respostas observáveis, desconsiderando as variáveis internas, da estrutura peculiar de cada indivíduo, sendo vista como insatisfatória para explicar o processo de aprendizagem.
As teorias mediacionais podem ser dividas em: 1) Aprendizagem Social, condicionamento por imitação de modelos, do qual os autores mais conhecidos são Bandura, Lorenz, Tinbergen, Rosenthal; 2) Teorias Cognitivas, subdivididas em Teoria da Gestalt ( Kohler, Whertheimer, Maslow, Rogers), Psicologia genético-cognitiva, (Piaget, Bruner, Inhelder), Psicologia genético-dialética (Vygotsky, Leontiey, Rubinstein, Wallon) e Teoria do Processamento de Informação (Gagné, Newell, Simon, Mayer, Pascual Leone). Jaison optou por trabalhar com as teorias cognitivistas, em especial com a Psicologia genético-cognitiva, de Piaget, e a Psicologia genético-dialética, de Vygotsky, devido à importância e do limites de tempo disponível do momento.
É fundamental entender que nessas teorias mediacionais as condições externas são mediadas por estruturas internas que conformam peculiaridade e singularidade aos sujeitos. Temos múltiplas maneiras de nos relacionar com essas condições externas, Piaget entende isso de uma maneira e Vygotsky de outra.
Jaison expôs alguns pressupostos importantes que demarcam um pouco como Piaget entende esse processo de aprendizagem e a importância da mediação. Observa-se na teoria de Piaget o intercâmbio entre o meio e a dinâmica do desenvolvimento interno. Ele tenta romper com o inatismo e o empirismo: o primeiro afirma que já nascemos com os conhecimentos necessários, precisando somente desenvolvê-los, o segundo diz que nascemos sem saber nada e são os sentidos nossa porta de entrada para o mundo, aprendemos a partir de nós mesmos. Piaget diz que há um processo duplo de construção do conhecimento, no qual há um conjunto de estruturas internas e há um conjunto de estímulos do meio e é nessa interação entre esses dois processos que se constrói o desenvolvimento, ou seja, a modificação da estrutura interna faria acontecer a aprendizagem, aquisição de novas habilidades, novos conhecimentos.
Importante saber de Piaget que as estruturas internas condicionam a aprendizagem, sendo mecanismos reguladores aos quais se subordina a influência do meio. A idéia fundamental é que o desenvolvimento precede a aprendizagem, só conseguimos aprender porque desenvolvemos determinadas estruturas compatíveis com a exigência daquele conhecimento, habilidade. A aprendizagem provoca modificações e transformações das estruturas cognitivas, que ao mesmo tempo, uma vez modificadas, permitem a realização de novas aprendizagens mais complexas.
Piaget fala em dois movimentos que explicam esse processo de construção genética: 1) a assimilação, que é o processo de integração dos objetos e conhecimentos novos às estruturas velhas anteriormente construídas pela criança; 2) a acomodação, formulação e elaboração de estruturas novas como consequência da incorporação precedente. Ambos constituem a adaptação ativa do indivíduo que atua e reage a compensar as perturbações geradas em seu equilíbrio interno pela estimulação do ambiente. Há um constante desequilíbrio, quando a criança é desafiada no seu dia-a-dia, por exemplo.
É importante destacar que a figura do adulto está presente somente na organização, como alguém que proporciona experiências no qual os indivíduos irão agir para a produção do conhecimento, sendo estes o sujeito ativo na sua aprendizagem. Assim a educação deve orientar-se para os processos autônomos e espontâneos de desenvolvimento e aprendizagem.
Vygotsky salienta a importância não somente do adulto como organizador, mas também da mediação dele para o processo de aprendizagem.  Tem maior ênfase na construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, pela mediação feita por outras pessoas. Enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, por meio de recortes do real, operados por sistemas simbólicos de que dispõe.
O que diferencia Piaget de Vygotsky é que esse último afirma que tudo que é construído, apreendido, é produto cultural e social. As trocas espontâneas ou facilitadas das crianças com o meio físico não são independentes de mediação cultural; as formas, as cores, a estrutura, a configuração espacial e temporal dos objetos respondem a uma intencionalidade social e cultural, mais ou menos específica. Este também ressalta a importância da instrução como método mais direto e eficaz para introduzir a criança no mundo cultural adulto.
Desta perspectiva, se propõe um modelo de aprendizagem guiado e em colaboração, baseado mais na interação simbólica com pessoas do que na interação com o meio físico. Sendo assim, a linguagem é fundamental por ser instrumento básico de intercâmbio simbólico entre as pessoas, tornando possível a aprendizagem em colaboração, mediação.
A linguagem fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e é por meio dela que as funções mentais são socialmente formadas e culturalmente transmitidas (sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas).
Jaison finalizou o encontro com três (3) citações para refletirmos:
“Nosso cérebro não se encontra num tonel, mas em nosso corpo. Nossa mente não se encontra em nosso corpo, mas no mundo. E, quanto ao mundo, ele não está em nosso cérebro, nosso corpo ou nossa mente: estes é que, junto com os deuses, os verbos, as pedras e a política, estão nele.” (GEERTZ, 2001, p.181).
[...] os processos mentais do homem ocorrem, na verdade, no banco escolar ou no campo de futebol, no estúdio ou no assento do caminhão, na estação de trem, no tabuleiro de xadrez ou na poltrona do juiz.” (GEERTZ, 1989, p. 61).
“O pensamento humano é rematadamente social: social em sua origem, em suas funções, social em suas formas, social em suas aplicações. Fundamentalmente, é uma atividade pública – seu habitat natural é o pátio da casa, o local do mercado, da praça da cidade.” (GEERTZ, 1989, p. 150).

Referências:
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro :  LTC Editora, 1989.
______. Nova luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
PÉREZ-GÓMEZ, Angel. Para compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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