No dia 19 de junho de 2012, às 09h e 15min, teve início o Encontro do
Grupo de Estudos Independente da Educação Física na Educação Infantil. Ele
contou com a presença de quatorze (14) professores, bem como de uma bolsista do
Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (UFSC/CNPq). O
Encontro foi coordenado pelo professor Jaison José Bassani (DEF/CDS/UFSC) e
teve como objetivo continuar a discussão sobre a relação entre os Núcleos de
Ação Pedagógica e a Educação Física: Relações sociais e culturais - contexto
espacial e temporal, identidade e origens culturais e sociais.
Jaison inicia o encontro falando sobre a importância de vincular a
discussão de cultura com o tema corpo, abordado no encontro anterior, mostrando
o quanto ele é produto histórico-cultural e que consequências isso acarreta
para a Educação Física. Foram trabalhados dois conceitos, técnicas corporais e
usos do corpo, considerando que consideramos alguns deles como legítimos e outros
não - estes seriam modos, práticas, costumes, que fundamentalmente desrespeitam
ao corpo.
O conceito de técnicas corporais é formulado pelo sociólogo e antropólogo
francês Marcel Mauss (1872-1950). Ele o evoca pela primeira vez no ensaio As técnicas do corpo, publicado
inicialmente em 1935, na qual significa “[...] as maneiras pelas quais os
homens, de sociedade a sociedade, de uma forma tradicional, sabem servir-se de
seu corpo.” (MAUSS, 2003, p. 401). O ensaio de Mauss procura mostrar que mesmo
aqueles hábitos ou práticas que nós consideramos naturais, como o andar,
dormir, comer, espreguiçar-se, ou seja, hábitos que possuímos e que parecem ser
inerentes ao ser humano, são construções sociais e culturais.
Importante também conhecer sobre os usos do corpo a noção de cultura
somática, quando Jaison recorreu ao sociólogo francês Luc Boltanski (1940),
autor de “As classes sociais e o corpo”,
livro cuja ideia central é existência de regras que determinam o grau de
interesse e de atenção que convém dar às sensações corporais e ao próprio corpo.
As regras, as sensações e o próprio corpo não são idênticos nos diversos grupos
sociais, e se constituem como códigos da própria sociedade.
Significamos o corpo de maneira completamente distinta uns dos outros e
isso está ligado a um conjunto de regras que estruturam hábitos, e este é
incorporado fundamentalmente por meio do corpo, assim construindo maneiras de
se relacionar com os outros e conosco mesmo. A própria maneira de entender e
significar o corpo é produto de circunstâncias históricas e sociais, seus
gestos, suas ações as suas expressões. A partir dessas reflexões devemos pensar
as conseqüências no âmbito da Educação e da Educação Física, Jaison destaca.
A discussão passou a ter foco maior na Educação Física, Pedagogia, as
relações sociais e culturais, e suas intersecções; pensamos sobre a educação do
corpo como problemática institucional. A Educação Física, junto com a
instituição como um todo, tem a função de repensar as técnicas corporais e os
cuidados com o corpo nos ambientes educacionais, como as práticas em tempos e
espaços institucionais, castigos, ameaças, premiações, técnicas disciplinares e
de regulação, discursos cientificistas. Devemos compreender que os corpos se
expressam diferentemente porque representam culturas diferentes, sendo
necessário entender quais os princípios, valores, normas que levam os corpos a
se manifestarem de determinada maneira. É preciso, portanto compreender os
símbolos sociais e culturais que estão representados no corpo para poder saber
lidar com essa diversidade encontrada no âmbito da instituição educacional.
Jaison expõe e discute os elementos até aqui refletidos por meio do NAP
em questão e o possível papel para a Educação Física nos ambientes
educacionais. O papel da Educação Física é o de apresentar, historicizar, experimentar,
problematizar e recriar o acervo de formas de expressão e representação do
mundo que nós temos produzido no decorrer da história, exteriorizado pela
cultura corporal (SOARES e col.), tal como os jogos, as brincadeiras, as
danças, os esportes as lutas, as formas ginásticas, incluindo também aquelas
oriundas da culturas primeira de crianças e jovens e das comunidades nas quais
as instituições educacionais estão inseridas.
Devemos optar pelo desafio de dialogar com as distintas tradições e
culturas que chegam até nossas instituições, mas não combatê-las; procurar
entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como “inferiores”.
A Educação Física pode utilizar modos de abordagem, usos, linguagens,
regras, experimentações, fornecendo uma ampla vivência para os pequenos, das
diferentes manifestações da cultura corporal, pelo conceito e pela experiência,
fornecendo chaves para o conhecer. Assim, de maneira espontânea e cotidiana
incorpora-se a cultura produzindo elaborações e interpretações pessoais por meio
das experiências e intercâmbios vividos pela criança.
Importante lembrar que nós, professores, fazemos parte de uma cultura que
nos constitui como membros de uma coletividade com uma história, mas que esta não
deve ser imposta ou permissível na educação do corpo das crianças.
Referências:
MAUSS, M. Sociologia e
antropologia. São Paulo: Cosac-Naify, 2003.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
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